MESTRAS NO AMOR

MESTRAS NO AMOR

 

MESTRAS NO AMOR

 

            Um dos homens mais inteligentes que conheço é o atual Abade do Mosteiro Trapista de Campo do Tenente, Paraná, Padre Bernardo. Ele é judeu de nascimento e aos dezoito anos converteu-se ao cristianismo. Hoje é cristão, padre e abade. Uma vez estava ouvindo a gravação de um retiro que ele pregou sobre o Evangelho de João e quando estava falando sobre o amor de Deus contou uma experiência que tinha vivido com seu pai.  Ainda bem jovem o seu pai chegou para ele e perguntou:

            - Bernardo, meu filho, se a nossa casa estivesse pegando fogo e sua mãe estivesse lá dentro, você entraria para salvá-la?

            Ao que o padre Bernardo respondeu:

            - Claro, pai. Nem pensaria duas vezes. Entraria no fogo para salvar a mãe!

            Então o pai disse a ele:

            - Eu não.

            - O senhor não?!

            - Não. Mas uma coisa eu te digo: se fosse você ou eu que estivéssemos lá dentro, ela entraria com certeza!

            Padre Bernardo ficou com a pulga atrás da orelha: “Papai não ama a mamãe!”

            Mas é que os judeus ensinam assim. Eles não dão respostas prontas. Deixam a pessoa pensar, pensar, até chegar na sabedoria que precisam encontrar. Hoje o padre Bernardo sabe que o pai amava e ama a sua mãe. O que ele estava querendo era ensinar para ele o que é o amor de mãe. Olhe o que ele disse: “Mas se fosse eu ou você que estivéssemos lá dentro, ela entraria com certeza!”. Este é o amor de mãe. O amor que não pensa duas vezes em até dar a própria vida para salvar a quem ama. É o amor divino. Deus fez e faz assim conosco.

            Na verdade, Deus nos concedeu dois mestres para a vida. A mãe e o pai. Cada um é encarregado pela própria natureza para nos ensinar coisas bem específicas. As mães nos ensinam a amar. A termos afeto. São mestras no amor, no carinho e no cuidado. E os pais são os mestres da responsabilidade, do uso da razão, da consciência, da honestidade. Os pais nos ensinam a fazer as coisas certas. A sermos corretos conosco mesmos e com os outros. Quantas vezes vejo em mim mesmo a minha mãe e o meu pai. Quando sou carinhoso com vocês. Quando meu coração se enche de misericórdia para com quem precisa. Quando perdôo. Quando entendo os erros. Quando vejo uma criança e digo: “Meu Deus, mas que coisinha mais linda!”. É minha mãe que está falando em mim. É assim que ela fala quando vê uma criança. E quando faço as coisas certas. A honestidade na administração da paróquia. Quando chamo atenção. Quando fico irado com o que está errado, vejo o meu pai. 

            E as mães, as mestras do amor nos ensinam em um programa de vida que quase  sempre se repete. E que tem muito coração e choro. Baseado numa grande escritora de Joinville, Mary Bastian, em sua crônica “Mães choronas”, escrita para o Jornal A NOTÍCIA, pela passagem do dia das mães. Penso que as mães nos ensinam chorando. Começam a chorar quando sabem que estão grávidas. Choram porque vão ser mães. Depois, grávidas, choram por qualquer coisa. Não podemos nem olhar com cara feia para elas. Outro dia senti que tinha que ligar para minha irmã que está em Florianópolis e que casou tem uns sete meses. Liguei e ela já atendeu chorando. Tomei um susto. “Que foi maninha?”. “O Altemir não me entende!”. O Altemir é meu cunhado. “Mas o que foi que ele fez?”. “Ele não me entende!”. E aí começou a falar tudo que ele tinha feito com ela, sem entendê-la. Foi quase meia hora de telefonema. Ao que eu disse: “Mas, maninha, vocês estão casados há sete meses. Agora que vocês estão aprendendo a ser marido e mulher! Namorar é uma coisa, mas morar junto é outra. Dá tempo para ele aprender a te entender!”. E no final da conversa ela mesma disse: “É, eu penso que é porque eu estou grávida, por isso estou tão sensível”.

            É, vocês mães grávidas são assim. E depois se todo mundo diz que vai ser um menino. Lá no coração vocês sabem (e só vocês sabem) que vai ser uma menina. E aí chega o ultrassom, no exame morfológico aquela ansiedade. “E aí doutora, é menino ou menina?”. “Calma, ainda não chegamos lá embaixo!”. Até que a médica diz: “Olhe, é uma menina!”. E aí vocês choram porque estavam certas. E passam a amar mais ainda quem está no ventre porque agora sabem quem está vindo.

            Até que chega o parto. E vocês choram pela dor e pela emoção de, enfim, conhecer o filho de vocês. E quando nasce e o médico traz a criança e coloca sobre o peito, a primeira coisa que fazem é contar os dedinhos das mãos e dos pés para ver se está tudo perfeito. E aí, choram porque a filhinha ou filhinho veio sadio e perfeito. E continuam chorando ao vê-lo no berço. Ao amamentar. Tenho uma amiga da Terapia Ocupacional que me dizia quando estudávamos juntos: “Carlos, você nunca vai saber a sensação maravilhosa que é amamentar um filho!”. É, nós homens nunca vamos saber o que é isso.

            E aí chega o momento da primeira grande separação. A creche ou pré-escolar. Sofrem e choram os dois. A mãe e o filho. Penso que o quarteirão inteiro me ouvia, no meu primeiro dia de jardim. Gritava bem alto: “Eu-que-ro-a-mi-nha-mâââeeeeeeee!”. Depois ela também me confidenciou que estava ali por perto escondida, chorando e rezando para que eu parasse de chorar, porque senão ela mesma ia me tirar dali.

            E o programa de ensino do amor continua, vem a adolescência. E nós precisamos começar sair. Ir para festa. Ir para o shopping. Arranjar namorada. Começamos a chegar tarde. E começa o grande sofrimento do cuidado. Quantas vezes na minha vida de solteiro cheguei cinco ou seis horas da manhã. E quem estava lá no portão me esperando? “Mamãe, por que a senhora não está dormindo?” Que pergunta... “Eu não consigo dormir antes de você chegar!”. É, vocês são assim. E mesmo que finjam que estão dormindo, não, estão acordadas esperando. E só quando escutam o nosso primeiro ruído, que comprova que chegamos, é que relaxam e dormem.

            Aí chega o casamento. Se é o menino que vai casar, vocês choram e sentem ódio da nora que está roubando o filho de vocês. Se é a menina que vai casar, vocês dizem: “Olhe, pense bem, pode não ter mais volta!”. Tem sim, mãe, tem volta sim. O coração de vocês não trai o amor. Se o casamento de um dos dois não der certo, é claro que vocês acolhem novamente.

            E o cuidado continua. Mesmo depois de casados. Soube de um casal de jovens em Curitiba, no primeiro mês de casamento, tiveram uma discussão. A mãe dele foi bater no apartamento deles. Quando ele abriu a porta: “Mamãe, o que a senhora está fazendo aqui?”. “Eu soube que vocês não estão bem!”. “Sim, mas a senhora não tem nada a ver com isso, pode ir para casa!”. “Ohhh!”. Foi procurar um psicólogo: “O meu filho, depois de tanto amor, tanto cuidado, agora depois de casado teve o displante de dizer para mim que eu não tenho mais nada a ver com a vida dele!”. Ao que o psicólogo disse: “Sim, a senhora, não tem mais nada a ver com a vida dele. A senhora vai ficar na sua casa e se ele precisar ele vai buscar ajuda com a senhora”. Mas vocês mães são assim. Cuidam sempre. É por toda a vida. E mais, com o tempo os esposos passam a ser filhos também. Quantos casais que escuto um chamando o outro de pai e mãe.

            E mesmo que vocês partam um dia, aí é que com certeza o cuidado continua e ainda mais eficaz. Conheço um jovem que usava crack. Rezamos por ele dois anos. Eu, a mãe e a avó. Até que a avó, grande mãe, faleceu e um mês depois o jovem chegou para mim pedindo um tratamento. Hoje está lá numa casa de recuperação. A mãe-avó agora está bem pertinho do Senhor...

            Roberto e Erasmo foram muito iluminados ao comporem estes versos que conseguem dizer o que gostaríamos e muitas vezes não conseguimos:

            “Eu tenho tanto pra lhe falar, mas com palavras não sei dizer, como é grande o meu amor por você! E não há nada pra comparar, para poder me explicar, como é grande o meu amor, por você!

            Nem mesmo o céu, nem as estrelas, nem mesmo o mar, nem o infinito, não é maior, que o meu amor, nem mais bonito. Me desespero, a procurar, alguma forma de lhe falar, como é grande o meu amor por você!

            Nunca se esqueça, nenhum segundo, que eu tenho amor maior do mundo, como é grande o meu amor por você!”

            Diga para sua mãe o que realmente temos que dizer e a correria da vida muitas vezes não nos permite:

            “Querida mãe, muito obrigado por ter me dado a vida! Muito obrigado por eu estar aqui! Obrigado por, pelo teu jeito chorona de ser, me ensinar a amar, a cuidar, a ser gente! Perdoa, mãe, por todas as preocupações que te dei! Por todas as decepções que provoquei em teu coração! Perdoa! E quero te dizer, do fundo de meu coração, neste teu dia, que EU TE AMO E SEMPRE VOU TE AMAR! Muito obrigado, mamãe!”.

            Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo! 

(Homilia do Dia das mães 2010 – Por Padre Carlos Afonso Gonçalves de Sousa, atual Pároco da Cristo Ressuscitado do Floresta – Joinville - SC)