OS DOIS OLHARES

OS DOIS OLHARES

 

OS DOIS OLHARES

 

“Estais com inveja por que eu estou sendo bom?”

 

(Is 55, 6 – 9) (Fl 1, 20 – 24. 27) (Mt 20, 1 – 16)

 

 

                        Haviam dois homens que um dia estavam tomando banho em um rio. De repente viram uma criança descendo rio abaixo pedindo socorro. Eles nadaram rápido até ela e a salvaram. Assim que chegaram na beira do rio, outra criança descendo gritando por socorro. Eles atiraram-se na água e a salvaram também. Novamente quando estavam chegando na praia outra criança descendo rio abaixo. Um deles logo se atirou na água para salvar, quando nadava viu que o companheiro não tinha vindo, mas caminhava na direção do rio acima, o outro perguntou gritando: “Você não vem salva-lo?” Ao que o outro respondeu: “Não. Eu vou subir para ver quem está jogando estas crianças no rio!”

                        Esta parábola da vinha é uma provocação de Nosso Senhor para nós. pedindo nossa mudança de visão das coisas. Muitas vezes não vemos as causas, nem estimamos muito as conseqüências. Vemos logicamente, matematicamente, vemos em parte e não o todo.

                        O patrão diz o valor do pagamento para os primeiros. Para os da segunda e terceira hora, ele só diz que vai pagar o que é justo. E é justamente para os da última hora que ele começa o pagamento e dá para eles o que foi prometido para os primeiros. Aqui está a provocação ao nosso pensamento. Os primeiros pensam, se eles que trabalharam o dia inteiro, então vão receber mais. Porém o patrão dá a eles o mesmo que os últimos. E é claro que vem uma reclamação geral. Ao que o patrão os questiona em duas coisas: “Não tenho direito de fazer o que quero com o que me pertence?” e “Ou estais com inveja porque estou sendo bom?”.

                        Em nossa lógica os que trabalharam o dia inteiro tinham que receber mais. Mas esta é a nosso lógica. Nós que vemos em parte. Porque será que o patrão deu o mesmo tanto para todos. Recebeu o mesmo quem trabalhou apenas uma hora.

                        A chave está na pergunta do patrão: “Como é que estais aqui sem fazer nada o dia todo?”. Este é o olhar de Deus. Os da última hora passaram o dia inteiro sem trabalho. Na angústia de ter quem sabe mulher e filhos em casa passando fome. Eles não trabalharam o dia inteiro, mas tiveram a angustia de um dia inteiro sem trabalho. Eles mereciam sim o salário inteiro. Porque Deus vê o bem estar de todos. O necessário para todos. Nós ainda não vemos assim. Há se nossos governantes, e políticos em geral vissem assim. Todas as pessoas receberiam um bom salário para viverem bem, dignamente. Se igualaria os salários. Haveria menos concentraram de renda nas mãos de alguns que precisam vomitar para poder comer mais como diziam Dom Helder Câmara.

                        Muitas vezes temos pessoas sofrendo dentro de nossa casa, e não consideramos. Um marido alcoólatra, porque será que ele bebe tanto? A bebida o vício seja ele qual for e a busca de preenchimento de um vazio. O que será que está faltando para ele, você já se perguntou? Será que ele está sendo suficientemente amado? Um filho problemático, será que não está faltando amor? Mas amor demonstrado, vivido, encarnado, não amor aqui dentro sem ser expressado. Procuremos ver as pessoas no todo se suas vidas. Buscamos subir o rio para ver quem esta jogando as crianças e não ficar se queixando apenas de que estão vindo crianças rio abaixo.

                        Aqui está o pedido de Deus através de Isaías:

 

“Busca o Senhor, enquanto se deixa encontrar, invocai-o enquanto está perto!”

 

                        Mudemos nossa visão de mundo. Que não vejamos matematicamente, mas misericordiosamente.

 

“Volte ao nosso Deus, pois ele perdoa generosamente.”

 

“Pois meus pensamentos não são vossos pensamentos, e os vossos caminhos não são os meus caminhos – oráculo do Senhor. Quanto o céu é mais alto que a terra, tanto os meus caminhos estão acima dos vossos caminhos e meus pensamentos acima dos vossos caminhos.”

 

                        E o segundo ensinamento desta parábola, a nosso ver, é quanto ao pagamento. Foi o mesmo para todos. E o patrão ainda diz: “Não estou sendo injusto contigo!”. Ou ainda quando ele diz que vai pagar um salário justo para os da segunda e terceira hora. A vinha é o Reino de Deus. O patrão é o nosso Deus. E o pagamento é o Reino dos Céus. Sua graça e seu amor. O céu é o mesmo para todos. Não vamos receber no final de vida, céus diferentes. Um céu bem grande para um, para outro um céu pequeno, para outro ainda um céu mais ou menos. Não, o céu é o mesmo. A graça de Deus é a mesma para todos. O seu amor é o mesmo para todos.

                        Na verdade não devemos trabalhar para Deus esperando receber alguma coisa em troca. Nós que temos que pagar pelo privilégio de sermos úteis ao seu reino.

                        Quando fiz o retiro de 30 dias, ouvi duas freiras, na missa de apresentação do grupo todo que ia fazer o retiro, ouvi as mesmas dizerem que tinham ido fazer o retiro para agradecer. E eram duas freiras velhinhas, cansadas da vida, mas tinham ido ali para agradecer por trabalhar tanto pelo Senhor. Estas são as trabalhadoras legítimas da vinha.

 

“Para mim, viver é Cristo e a morte é lucro.”

 

                        Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!