A PERFEITA ALEGRIA

A PERFEITA ALEGRIA

 

A PERFEITA ALEGRIA

Sb 2,12.17-20/Tg 3, 16-4,3/Mc9, 30-37

 

            Sabemos que o nosso ponto de chegada é o Céu. Estamos aqui para aprendermos a viver no céu. E Deus é Pai que deseja que seus filhos conquistem sua salvação. Cristo já nos salvou totalmente, mas falta a nossa parte, mesmo com toda a sua garantia. Por isso estamos aqui na terra para aprendermos a seguir o caminho do céu. E todo caminho tem sempre bifurcações. Deus em sua infinita sabedoria nos oferece sempre dois caminhos. Não sei se já perceberam isto, mas em tudo temos sempre duas opções. Se alguém nos ofende, por exemplo, temos a opção de perdoar e seguir em frente, ou nos ofendermos ou vingar-nos. Nestas opções Deus no oferece duas colunas: uma de realidade e verdade e outra que é a negação de tudo o que existe.

            Em uma coluna temos Deus e tudo o que vem dEle: Amor, bem, luz, dia, verdade, justiça e tudo o mais que há de bom. Do outro lado, temos o contrário ou ausência de Deus: Diabo, ódio, treva, noite, mentira, injustiça e tudo o mais que é a negação de Deus. Nestas duas colunas, temos duas mães: Eva, a mãe do orgulho e do pecado. Que interessante, não existiu, mas é uma criação teológica para nos explicar que natureza nós somos. Até nisto, Eva pertence a coluna da negação, ela não existiu. E do outro lado temos Maria, real, histórica, mãe da humildade e do amor.

            Eva ao chegar no Paraíso, seu esposo falou da proibição que tinham: uma determinada árvore lhes era proibido comer. Representando que na vida podemos tudo, mas sempre há coisas que não devemos fazer. Eva enquanto não chegou perto da árvore, não se aquietou. Levou seu esposo e quando lá chegaram, quem encontraram... Quando nos afastamos de Deus, do outro lado, sua negação... o diabo. E o diabo que toma iniciativa da conversa: “É verdade que Deus proibiu vocês de comerem de todas as árvores do jardim...” e Eva cai na besteira de conversar. Não devemos dialogar como mal. “Não é só desta árvore que não podemos comer. Porque o Senhor disse que se comermos vamos morrer”. “De modo algum, morreram, é que Ele sabe que no dia que dela comerem, vocês vão ser que nem Ele... Deuses...” Esta proposta é tentadora para Eva. Ser que nem Deus. Aqui está uma das dimensões do pecado original: querer ser Deus, esquecer que somos criaturas, filhos de Deus e não deuses. Eva, a mãe do orgulho, não resiste e pega do fruto, come e da para o marido e ele come. E morrem para a amizade com Deus. Perdem a graça, vêem que estão nus...

            Nós nascemos filhos de Eva. Temos sempre a tendência de estarmos por cima. Queremos ser elogiados, admirados, é terrível quando somos afrontados, humilhados, injustiçados. Guardamos rancores e mágoas. As vezes por uma vida inteira. Não conseguimos perdoar. É tão difícil o perdão. Quando mais filhos de Eva somos, mais orgulho temos e mais difícil esquecer as ofensas, as humilhações...

            Temos que aprender, tomar consciência disto e nos tornarmos filhos de Maria, irmãos que Cristo. Deus nos ama tanto que ele veio nos ensinar isto. O próprio Deus desce para nos resgatar de nossa própria escravidão. Escravidão de nosso próprio orgulho. Livrar-nos de nosso inimigo mais perigoso, o eu-orgulhoso. Que carinho o de Deus... Quando amor... Deixa sua majestade para ser gente, desce ao mundo, encarna-se. AquEle que é infinito. Que nem o universo pode conter, encarna-se e passa a ser mais um. Um indivíduo. Só para nos salvar. E mais desce, abaixa-se e lava os nossos pés. “O Senhor vai lavar meus pés...” Perguntou Pedro reprovando o gesto de Nosso Senhor. O eu-orgulhoso-filho de Eva falava em Pedro. “Se não te lavar os pés, não terás parte comigo...” Não terás parte comigo. Não serás como eu, simples, humilde, não descerás até mim. Não te libertarás de ti mesmo.

            E Deus desce mais ainda, não bastasse ser gente, aceita ser coisa. “Isto é o meu corpo!”... Como perguntava Dom Helder: “Quem de nós aceitaria ser chamado de ISTO...” E Nosso Senhor morre flagelado numa cruz. Desce até o limite do nada. Do fracasso e perda total. Deus passa a ser o último, o desprezado total. E assim nos coloca no devido lugar: criaturas de Deus. Filhos de Deus e não deuses. “É o Senhor que sustenta a minha vida!” Diz o refrão do salmo deste final de semana. Deus é Deus, eu sou filho de Deus.

“Quem quer ser o maior... seja o menor de todos e aquele que serve a todos...” E Deus nos pede isto, não para que estejamos por baixo, para nos humilhar, mas porque este é o caminho da paz e libertação. Quando aceitamos perder, quando as pessoas são vistas como mais importantes que nós mesmos, não há mais ofensa, mágoas, rancores e sim amor, entendimento, perdão.

Nosso Senhor completa sua lição com um menino, uma criança. “Quem acolher uma criança como esta em meu nome é a mim que acolhe, e quem me acolhe, acolhe aquEle que me enviou”. Acolher a criança em nosso coração. Já fomos crianças um dia, filhos somos por um longo tempo, quando nossos pais estão conosco, para deixar claro que somos eternos filho, eternas crianças temos que ser. Uma criança obedece ao adulto, aos seus pais com toda serenidade. Não questiona apenas faz. “Senta no chão!” Ela senta. Confia apenas.

São Francisco um dia vinha voltando para a Porciúncula com Frei Leão, depois de uma missão, e já era noite, uma forte nevasca, pés descalços na neve. Quando ele pergunta para Frei Leão se ele sabia qual era a perfeita alegria... “Qual é, Pai Francisco...”. “Se nós tivéssemos o poder que falar todas as línguas para pregar a todos os povos do mundo, será que seria a Perfeita alegria...” Pergunta Francisco. “Será Pai Francisco...”Pergunta Frei Leão. “Não, esta não é a perfeita alegria”. “E se tivéssemos o poder de curar a todos os doentes... seria a perfeita alegria...” “Será, Pai Francisco...” “Não, Frei Leão, esta não é a perfeita alegria”. E depois de vários exemplos, Francisco diz: “A perfeita alegria, Frei Leão é se nós chegarmos daqui a pouco no convento e batermos na porta, pedindo para entrar e o Frei Porteiro perguntar lá de dento quem é e nós respondermos: “Sou eu, Frei Francisco e Frei Leão, estamos cansados, com frio e com fome, precisamos entrar...” E se lá de dentro ele responder: “Não vos conheço!”. E se nós batendo na porta insistirmos: “Abre irmão, só para passarmos a noite, está muito frio” E se ele abrir a porta e com um cabo de vassoura bater em nós até não querer mais e se mesmo assim, nós preservarmos a paz, esta é Frei Leão a perfeita alegria!”.

 

            Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!