“SER SAL E SER LUZ!”

“SER SAL E SER LUZ!”

 

“SER SAL E SER LUZ!”

Mt 5, 13 – 16

 

                Penso que em nossas vidas não deve haver lacunas. As lacunas todas têm que ser preenchidas. Esclarecidas. Bem resolvidas. Se um marido vai para o trabalho. Depois passa da hora de voltar. A esposa liga para o trabalho, ele não está. Liga para a casa da mãe dele. Também não está. Liga para o melhor amigo dele e também ele não sabe onde ele está. E quando ele chega e não diz nada. Age como se nada tivesse acontecido. Hi..., o casamento está em risco.

                No dia 13 de julho de 2008, vocês sabem o que aconteceu comigo e com vocês? Não lembram? Eu me lembro muito bem. Estava aqui assumindo a Paróquia Cristo Ressuscitado do bairro Floresta. E eu tinha consciência naquele dia que não era eu que estava assumindo a Paróquia. Mas era a paróquia que estava me assumindo, porque desde aquele dia eu nunca mais tive sossego... Brincadeira do Padre! Sou muito feliz com vocês! E nesse trabalho aqui. E me considero um esposo. Porque sou casado com a Igreja. Por isso que aceitei e aceito usar essa aliança em meu dedo esquerdo. Porque me considero casado e bem casado com vocês. E como um esposo que se preze, gostaria de partilhar com vocês por onde eu andei no mês de janeiro, mês em que estivemos de férias. Para que em nossa vida não haja lacunas.

                No dia 29 de dezembro às 05 da manhã estávamos embarcando em um micro-ônibus, mais 25 pessoas para passarmos o Ano Novo na Canção Nova. Já fazemos isso há quatro anos e considero realmente a Canção Nova um dos melhores lugares para virarmos o ano. Fizemos uma viagem maravilhosa. Fomos durante o dia, e em um dia de sol, daqui até lá. Logo o grupo do ônibus se tornou uma grande família. E chegamos lá já ao entardecer. Fomos acomodados na Pousada da Dona Rosângela, uma senhora muito simpática e uma pousada muito agradável. Já ficamos lá também a vários anos.

                No outro dia de manhã seguimos para o Mosteiro das Concepcionistas, que fica em Guaratinguetá. Lá mora a irmã Nazaré, minha primeira madrinha de oração. Faziam 13 anos que não nos víamos. Mas ela sempre foi uma madrinha muito fiel. Acompanhou-me com cartas e cartões por onde eu andei em minha formação. E agora, como ela é uma monja externa. Que cuida dos pagamentos e outros do mosteiro. A madre a autorizou a ter um celular. Assim, de vez em quando eu recebo um torpedo dela.

                Depois dessa visita que encantou a todos pela santidade, simpatia e serenidade das irmãs, fomos para o Seminário Frei Galvão. Que fica bem perto do Mosteiro. Nesse seminário que passei meu primeiro ano de vida religiosa. Foi lá que eu aprendi a começar a ser padre.  Na verdade frade. Pois fiquei na ordem franciscana sete anos e meio. No seminário visitamos uma exposição de Presépios internacional. Mais de oitenta presépios do mundo inteiro. Uma exposição realmente belíssima. Todos os presépios com iluminação apropriada e dentro de redomas de vidro. Após o seminário fomos para a Basílica Nossa Senhora Aparecida. Onde o restante do dia foi para almoçarmos, rezarmos, fazer compras. Para que o dia primeiro fosse reservado apenas para a Santa Missa.

                Voltamos já ao entardecer para a pousada. O outro dia era trinta e um. O último dia do ano. E quando cheguei na Canção Nova no dia vinte e nove senti um chamado ou mandato do Senhor de que eu precisava atender confissões. E assim eu fiz. Bem cedo já fui me preparar na Capela e fui para o confessionário e comecei a atender o povo. A fila para confissões na Canção Nova nunca diminui. Atendi a manhã inteira. Almocei com os padres e de tarde continuei até por volta das três e meia quando veio um seminarista da Canção Nova comunicar que as confissões estavam encerradas. Olhei pela janela e vi ainda mais de cinqüenta pessoas para serem atendidas. Perguntei: “E eles?”. Ao que o seminarista respondeu: “Padre, aqui, enquanto tem padre, tem gente para se confessar. Mas quatro horas vamos ter a última adoração do ano e os padres vão para lá! É uma pena, mas vamos ter que fechar!”

                Tive que obedecer. Sai, passei pela frente das pessoas. E o impressionante é que o confessionário fechou, mas elas continuaram sentadas. Agora como ovelhas sem pastor. Quando passei pelo último da fila. (É uma fila sentada, em cadeiras de plástico). Algo me fez voltar. “Poxa vida, eu sou um padre. Esse povo quer absolvição. Que situação!...” Fui em uma moça loira que estava bem no meio deles. “Vocês querem se confessar, não é?”. “Sim, o senhor é padre?”. “Sim!”. Respondi, pois nada indicava que eu era. A não ser minha roupa branca. “Ah, padre, atende a gente, por favor!”. O que fazer? O confessionário oficial estava fechado. Onde atendê-los sem ser um “fora da lei”?. A minha frente tinha um quiosque com a imagem de Nossa Senhora de Lourdes. “Olhem, eu vou ali para aquele quiosque vocês vão um por um lá. Não dêem muito na vista, ta bom?”. Ficaram felizes. Fui para o quiosque. Veio primeiro a moça loira. Mas assim que sentamos, vieram dois funcionários da cozinha e sentaram juntos para descançar ali. E já começaram a conversar alto. Tivemos que ir para um banco ao ar livre. Assim que sentamos no banco, a moça disse: “Padre, antes de me confessar, gostaria de lhe partilhar uma coisa. Quando eles fecharam o confessionário, eu pedi com todo coração para Nossa Senhora: ‘Virgem Mãe, se tiver algum filho teu obediente a ti, fazei que ele nos atenda em confissão!”. Ela estava emocionada e escutar isso, me deixou também muito emocionado. Foi ela então que me fez voltar para atendê-los.

                Na metade das confissões chegou um rapaz com um crachá da Canção Nova perguntando se eu estava atendendo confissões. Eu disse que sim, apontei a fila e disse para ele sentar no final que eu iria atendê-lo. “Eu não quero ser atendido em confissão, não! Eu quero ver a sua carteira de padre!”. Foi um momento tenso, em que eu não sabia se realmente aquilo estava acontecendo ou não. “O senhor tem sua carteira?”. Graças a Deus eu estava com ela dentro do bolso. Tirei mostrei para ele. A fisionomia dele mudou. “Oh, padre, perdão, é que aparece muito gaiato por aqui atendendo confissão das pessoas, mas não são padre coisa nenhuma. É só para ficar ouvindo o pecado dos outros! Pode continuar atendendo tranqüilo. Desculpe!”. E assim foi, atendi a todos. E cheguei já bem no final da última Adoração do Ano, mas valeu a pena. Eu fui obediente a Nossa Senhora.

                A noite tivemos a Missa da Virada. E é algo maravilhoso você sair de um ano civil e entrar em outro dentro de uma missa. Bem na hora do Glória estávamos entrando em 2011. Por isso que passar lá na Canção Nova, vale muito a pena.

                No outro dia, retornar para casa, mas passando o dia na Casa de Nossa Senhora Aparecida novamente. Participamos da Missa, almoçamos e depois a excursão retornou, mas fiquei em Aparecida com outra excursão que foi daqui da Paróquia para agradecer a Nossa Senhora, por uma graça alcançada pelo jovem Junior. No início de dois mil e dez os dois rins do Junior resolveram parar. Quando fui visitá-lo no hospital estava ele na máquina de hemodiálise. Aquilo cortou o coração. Sabemos que para quem faz hemodiálise, a vida não é fácil. Três vezes na semana passar cerca de quatro horas preso aquela máquina. E imaginar uma vida assim para um jovem de vinte e poucos anos, não é fácil... Cheguei perto dele. Segurei a sua mão e perguntei: “Junior, você tem fé em Deus?”. “Sim, padre!”. “Então, meu filho, vamos rezar para Deus, pela intercessão de sua mãe Aparecida para que Ele te cure!”. E assim fizemos. Depois disso, a médica do Junior disse que os seus rins nunca mais iriam voltar a funcionar. Só tinha a opção do transplante. Ele entrou na fila de transplante. E em apenas três meses, foi chamado para a cirurgia. Fez com sucesso. No quarto depois da cirurgia seu novo rim já estava funcionando. Graças a Deus e intercessão de sua mãe Aparecida.

                Assim, no dia primeiro do ano, na Basílica da Mãe de Deus, às dezoito horas estávamos celebrando a missa de ação de Graças pela saúde do Junior. Foi uma missa linda. O coral, foram os familiares e amigos da excussão do Junior. Todos com uma camiseta feita para este momento: “Obrigada pela graça alcançada!”. Frase de sua mãe impressa ao redor de um desenho estilizado de Nossa Senhora Aparecida. Dormimos em Aparecida. E pela primeira vez tive a sensação de dormir no colo da Mãe de Deus. O hotel ficava bem em frente da Basílica e bastava sentar na cama para ver da Janela a grande Basílica. Fui uma noite muito especial.

                De Aparecida fui com o Thiago, jovem do eremitério Santa Maria dos Anjos e que é músico, pregar um retiro em Botucatu, para as irmãs Servas do Senhor. Foram sete dias maravilhosos na casa Mãe da Congregação fundada por Dom Henrique Goland Trindade. E o retiro foi uma meditação sobre a presença da Santíssima Trindade em nossa própria família. Todo o retiro foi um grande presente de Deus para nós. Do retiro voltei para a Paróquia para inaugurar o forro da Matriz, que ficou uma obra muito bela. Graças a escolha de nossa equipe de coordenação da Matriz. E depois voltei para as férias. Fui para o Rio de Janeiro onde revi tios e passamos três dias maravilhosos, onde se destacou a ida ao Pão de Açucar que faziam trinta anos que não voltava lá. Passamos a tarde no Pão de Açucar contemplando a beleza da Bahia da Guanabara.

                Do Rio de Janeiro, dia dezesseis, rumei para o Acre. Minha terra natal. Lá já estavam me esperando meus pais. E passamos sete dias com eles. Também inesquecíveis. Fizemos tudo juntos. Eles tiraram todo o atrazo de saudade que tinham do filho padre. Só me deixavam para ir ao banheiro e dormir. Fui muito bom. Caminhamos, passeamos, celebramos, visitamos amigos. Tudo foi maravilhoso. Voltando dia vinte e quatro passei por Londrina, para visitar nosso pai espiritual e amigo Dom Orlando Brandes. Sempre em janeiro damos um jeito de ficar uns dois dias com ele. Ele gosta muito, fica feliz com a visita. Também, rezamos, passeamos, conversamos. É um presente de Deus tê-los em nossas vidas.

                De Londrina voltei para Joinville e tinha ainda três dias de férias. Fui para o terreno do Eremitério Santa Maria dos Anjos, acampar com três jovens. Eram três barracas, três tendas ao pés da cruz que está lá. E nesse acampamento vivemos uma das experiências mais impressionantes de nossas vidas. O Rodrigo, um dos jovens, tinha me falado em dois mil e dez de uma experiência que tinha vivido com folhas brilhantes. Folhas secas que no chão, no escuro ficavam brilhantes com a oração. Na sexta feira, por volta da meia noite, ele nos convidou para fazermos a oração. E ver se Deus iria nos presentear com o fenômeno. Nos pés da Cruz, com a luz da lanterna, Rodrigo leu a passagem da Sarça Ardente. E depois apagamos a lanterna e começamos a rezar. Cantar. Invocar o Espírito Santo. Vi um pirilampo vir por perto do carro. Pensei: “Será que a experiência começa com os vaga-lumes?”. Só que o pirilampo foi embora. Depois de um tempo, cantando, rezando, o Rodrigo perguntou-me se eu estava cansado e se queria ir dormir. Cansado eu estava, mas estávamos ali para isso, para viver uma experiência de Deus. Um retiro. Então... “Podemos continuar, Rodrigo. Por mim, tudo bem!”. Ao que ele disse: “É, padre, por que a experiência já começou...”. Quando ele disse isso, eu sentei. Depois de mais um tempo ele me mostrou uma folha seca. Na folha tinha como que uma espécie de pingo de luz, bem no meio folha. Como se uma gota de luz tivesse pingado na folha. “Olha que impressionante!”, disse eu. A luz era de um lado e do outro. De repente vimos que todas as folhas ao nosso redor estavam iluminadas. Pareciam esses objetos fluorecentes que quando apagamos a luz eles ficam iluminados. “Meu Deus do Céu, olhe só para isso!”, dizia eu maravilhado com o fenômeno. Folhas secas iluminadas. Folhas secas que não servem mais, estavam no chão, tinham ganhado luz e vida. Impressionante. E não era ilusão por que passando para minha mão conseguia ver minha mão no escuro. Juntando uma cinco dava para ler a Bíblia. Uma prova indubitável da Presença de Deus. Começamos a refletir sobre isso: como Deus e só Deus dá valor e brilho ao que para nós não tem mais serventia nenhuma. O que por nós é abandonado Deus ainda pode fazer um grande milagre. Lembramos da passagem do profeta Ezequiel dos ossos secos. E glorificamos a Deus por nos dar tamanha prova de sua presença de poder. O Rodrigo que estava falando mais e cantando, em um instante que levantou para espalhar as folhas que pareciam brasas, vi que onde ele estava com os pés estava mais iluminado. Realmente era a energia da espiritualidade que estava fazendo aquele efeito. Quando fomos dormir o Rodrigo deu uma folha para cada um de nós para levarmos para a barraca. Lá quis rezar mais um terço agradecendo a Deus pelo que eu estava vendo. Levei uma folha que não estava muito iluminada. Só tinha luz em suas nervuras. Rezei o terço, meio que dormindo e acordando, e ao final quando olhei para a folha que estava no canto da barraca. Ele estava incandescente. Iluminada todo o canto da barraca. Realmente o efeito vinha da oração.

                Depois dessas experiências voltamos para Joinville e fui ainda para Montes Claros ajudar na pregação de um Retiro para quarenta e cinco seminaristas da Arquediocese de Montes Claros. O retiro foi muito bom, graças a Deus! E enfim, no sábado dia cinco de fevereiro estava chegando em Joinville terminando o período de férias. Foram tantos lugares, graças a Deus, que tinha hora, como no sábado, que cheguei, que não sabia mais nem onde eu estava. Foi tudo um presente de Deus.