EVANGELHO DE SÃO JOÃO
Johan Konings
Bernardo Bonowitz
O Evangelho segundo João (Jo) foi atribuído pela tradição da Igreja antiga a João, filho de Zebedeu, um dos doze apóstolos de Jesus. O estilo e o conteúdo mostram que a obra espelha uma pregação que atravessou diversas etapas. O toque final foi dado uns anos depois da destruição do Templo de Jerusalém (70 dC.), quando surgiu a ruptura entre a comunidade cristã e o judaísmo. Desprovido do Templo, o judaísmo estava se rearticulando, sob a guia dos rabinos, em torno do estudo da Lei (Jo 5, 39) e chegou a expulsar de seu meio os cristãos de raiz judaica (Embora de língua grega), que parecem ter constituído a maior parte da “comunidade joanina”.
Por outro lado, João é profundamente judaico e supõe um enorme conhecimento das Escrituras de Israel, mas, por outro lado, está em conflito com o judaísmo dos rabinos, que ele estigmatiza com o termo “os judeus” (enquanto organização religiosa, sem conotação de raça). A finalidade da obra se exprime nos versículos finais (20, 30 -31)... Fortalecer os fiéis na fé que confessa Jesus como Messias e Filho de Deus – os dois pontos de fé em que estavam sendo atacados pelos rabinos. O capítulo 21 é um apêndice...
PANORAMA GERAL DA OBRA
1, 1 – 18
Prólogo: Jesus, a Palavra de Deus
1, 19 – 12, 50
Os “sinais” de Jesus
Ainda não chegou “a hora”
12, 37 – 40
Conclusão: a incredulidade
13, 1 – 20, 31
A “exaltação” de Jesus
Chegou “a hora”
20, 30 – 31
Conclusão geral: fé em Jesus, Cristo e Filho de Deus
21
Epílogo:
a comunidade do Ressuscitado
CONTEÚDO GERAL
Jo não é composto de breves histórias, como os outros Evangelhos, mas de grandes episódios, em que se misturam narrativa, diálogo e discurso, assumindo, muitas vezes, forma de teatro. Ele segue um esquema geográfico e cronológico peculiar, mencionando diversas viagens de Jesus a Jerusalém e três páscoas, enquanto os outros Evangelhos mencionam uma só.
A estrutura do Evangelho:
O prólogo ou abertura
(A encarnação do Filho de Deus)
A Palavra de Deus se torna existência humana (“Carne”):
JESUS CRISTO
(1, 1 – 18)
Os sinais de Jesus
(Acreditar ou não que Ele é o Filho de Deus)
Uma coleção de sete obras poderosas, que Jo chama de sinais, por causa de seu valor profético, e que colocam os que vêem diante da decisão de crer ou não crer.
(1, 19 – 12, 50)
É a atividade pública de JESUS, momento provisório, no qual se sublinha que “sua hora” ainda não chegou. Os sinais colocam o mundo diante da opção a favor ou contra Jesus, sendo que não basta crer somente por causa dos sinais; importa descobrir o valor profundo de JESUS, o dom que ELE traz e que ELE é. A conclusão desta parte (12, 37 – 50) é uma reflexão sobre a incredulidade do mundo.
A “hora” de JESUS
Sua “exaltação”, em dois sentidos (como os dois lados da mesma moeda): Na Cruz e na Glória.
(13 – 20)
Nesta parte, o público é dividido.
O primeiro momento (13 – 17) se desenrola na intimidade daqueles que crêem, os discípulos: despedindo-se, JESUS revela o sentido profundo de sua obra. No segundo momento (18 – 20), Jo evoca a paradoxal “vitória” de JESUS sobre o “mundo” incrédulo: sua “exaltação” na cruz e na glória da ressurreição. A conclusão da segunda parte (20, 30 – 31) encerra o evangelho inteiro, apresentando a sua finalidade: confortar os fiéis na fé de que JESUS é o Messias e filho de Deus.
Capítulo 21, um epílogo
Pertencendo ao evangelho original, é, às vezes, chamado “os Atos dos Apóstolos conforme João”: Jesus, depois da ressurreição, apresenta-se à sua comunidade, na Galiléia, e a confia à responsabilidade de Pedro.
“A perícope da adúltera”
(Jo 7, 53 – 8, 11)
É um trecho bíblico que originalmente foi transmitido separadamente e, no século IV, inserido no evangelho de João.
Mas de onde saiu? Quem escreveu? Lc 21, 37 – 38
No início era difícil de aceitar uma adúltera ser perdoada... Isso era uma atitude cristã e não judaica...
TEMAS ESPECÍFICOS
A PALAVRA DE DEUS EM CARNE HUMANA
A mensagem que Jo propõe se resume na frase:
“Ninguém jamais viu Deus; o Filho único, que é Deus e está na intimidade do Pai, foi quem o revelou”
(1, 18)
Pois JESUS é a “Palavra” do PAI. A vida de JESUS é o PAI se comunicando e realizando suas obras (14, 10). A vida de JESUS nos diz como DEUS PAI é, e não há outro caminho (14, 6) de conhecer Deus como ELE é.
“Quem me vê, vê o PAI” (14, 9):
Esta frase, pronunciada algumas horas antes de JESUS provar seu amor até o fim (Jo 13, 1), significa que, no dom da vida de JESUS, reconhecemos o rosto de DEUS, que é AMOR (1 Jo, 4, 8.16).
“SINAIS” E SÍMBOLOS
A linguagem de Jo é altamente simbólica...
JESUS se apresenta como:
LUZ (8, 12; 9,5)
RESSURREIÇÃO E VIDA (11, 25)
CAMINHO, VERDADE E VIDA (14, 6)
PASTOR (10, 11)
PORTA (10, 7.9)
PÃO DA VIDA (6, 35)
PÃO VIVO (6, 51)
ELE traz em si o dom da Água da Vida (4, 14; 7, 37 s)
Esses mesmos símbolos são o dom de JESUS nos milagres, chamados expressamente de “sinais”, porque o seu valor não está no dom material, mas naquilo que significam...
O vinho:
bebida das núpcias messiânicas...
(2, 1 – 12)
A saúde:
A vida que JESUS traz...
(4, 46 – 54)
O pão:
Seu ensinamento e o dom da própria vida...
(6, 1 – 15)
(Multiplicação ou Partilha?)
A restauração da vista:
A luz que é JESUS
(9, 1 – 41)
O reerguimento de Lázaro:
A “Ressurreição e Vida” presentes em JESUS...
(11, 17 – 44)
Quem não vê o “sinal” no gesto de JESUS, é como se não tivesse visto nada...
(6, 26)
A HORA DE JESUS
Jo chama “a hora” de JESUS esse momento em que JESUS é, ao mesmo tempo, elevado à Cruz e na Glória, pois em seu morrer transparece a Glória do PAI, que é amor e fidelidade até o fim...
Tens dúvidas do AMOR DE DEUS?
Serias capaz de matar teu Filho para dar vida a alguém?
Gn 22, 1 – 13
“Pai, ...Mas onde está o cordeiro...?
Jo 1, 29
“Eis o Cordeiro de Deus, aquEle que tira o pecado do mundo”
O ESPÍRITO – PARÁCLITO E A “MEMÓRIA” DE JESUS
Não é interessante que é o Espírito Santo que relembra tudo aos apóstolos?
Por quê?
Ao despedir-se do mundo, JESUS promete o Paráclito para recordar sua obra e ensinamento e para conduzir a comunidade na verdade plena...
Fazendo-a compreender dia após dia o que JESUS falou antes que se realizasse.
(16, 1 – 15)
Este mesmo PARÁCLITO nos ajuda também a cumprir as “obras maiores” que JESUS, em sua vida carnal, não realizou, mas deixou para nós:
O ESPÍRITO “atualiza JESUS” no nosso meio.
(14, 12 – 17)
Por causa dessa compreensão atualizada no ESPÍRITO, o evangelho joanino é chamado o “evangelho espiritual”:
pelo ESPÍRITO, que JESUS envia da parte do PAI, aprendemos a fazer a obra de JESUS hoje...
A TRINDADE
O que já vimos mostra o caráter trinitário deste evangelho: Com o ESPÍRITO que permanece sobre ELE (1, 32 s), JESUS revela o PAI realizando sua obra (14, 10) e nos dá o ESPÍRITO para continuá-la (14, 12 – 17).
A MÃE DE JESUS
E AS PERSONAGENS FEMININAS
Jo é sóbrio em relação à “Mãe de JESUS”, nunca designada pelo seu próprio nome. Ele a menciona em duas cenas apenas, porém extremamente significativas: No primeiro dos “sinais” (2, 1 – 5) e ao pé da cruz (19, 25 – 27). Maria é a referência de JESUS ao entrar e ao sair da sua atividade pública. Por quê? Quantas mães nós temos? Terra, Biológica, Espiritual, Pátria. Qual a mãe espiritual de JESUS? Quem não tem mais vinho para as bodas? Só tem água para lavar as mãos? Só tem o ritual, mas perdeu o poder de libertar? A Sinagoga. O que quer dizer a palavra KANAH? “COMPROU”
Com o que foi comprada a nossa libertação?
Água = VINHO
VINHO = SANGUE
TERRA = ÁGUA (CÉU)
CÉU = SANGUE (TERRA)
CÉU + TERRA = ADVENTO E QUARESMA
Maria é a referência de JESUS ao entrar e ao sair da sua atividade pública. Por quê? ELE entra pela SINAGOGA que não o aceita enquanto Mestre e Senhor e que só tem água para o rito de lavar as mãos...
“Mulher, o que há entre mim e ti?...”
E sai deixando a IGREJA...
“Filho, eis aí tua mãe...”
É em sua Mãe que Ele é acolhido “no que era seu”... A comunidade...
(19, 27)
EIS AS QUALIDADES PARA SERMOS DISCÍPULOS AMADOS DE JESUS...
Recostar a cabeça em seu peito...
(Estar perto de seu Coração)...
E acolher sua Mãe em nossa casa (Vida)...
(Amar, respeitar e ser a Igreja)...