NÃO PASSARAM PELA PORTA

NÃO PASSARAM PELA PORTA

 

NÃO PASSARAM PELA PORTA

 

 

                        A nossa Igreja sofre de uma síndrome, a Síndrome do Templo de Jerusalém. Quando o templo foi construído pelo rei Salomão, a classe sacerdotal que o ajudou, incombiu-se de faze-lo em uma estrutura que acabou por afastar o povo de seu Deus. Lá no final do Templo estava o Santo dos Santos. Espaço pequeno, possivelmente dois por dois, onde Deus se encontrava e somente os sacerdotes podiam ali entrar para fazer as oferendas. Os demais mestres podiam ficar no átrio de fora. Os homens judeus no segundo átrio, e as mulheres, crianças e estrangeiros nos átrios externos, ou seja bem afastados do lugar onde Deus se encontrava.

                        Nosso Senhor vem e rasga a cortina do Templo, aproxima novamente, e totalmente Deus do seu povo, e de uma maneira vital, o povo pode se alimentar do seu próprio Deus. Deus caminha junto lado a lado do seu povo, e mais Deus quer viver no coração de seu povo.

                        A Igreja começa com os ares de Jesus, os apóstolos são homens simples, do povo, pés no chão, discípulos do Senhor. Porém a partir de 312, quando torna-se católica, a religião oficial do Império Romano, a síndrome volta novamente. Alguns líderes da Igreja que parecem que têm defeito de fábrica deixam-se levar novamente pela síndrome, e assim, papas, bispos e presbíteros voltam a afastar o povo de seu Deus. deixam novamente o povo do lado de fora do templo. Os vários templos construídos vão tendo uma arquitetura que deixa cada vez mais o Senhor bem longe do fiel. Fazem até uma cerca para evitar que as mulheres e crianças possam pisar no presbitério. E chegam ao ponto, na alta idade média de proibir o povo de ler a Palavra de Deus, o que deve ser um direito e dever de todo cristão passa a ser privilégio dos clérigos, os leigos, ou seja, os ignorantes são condenados a ouvir apenas o que os clérigos têm a dizer. Até dentro da própria vida religiosa, as Ordens como beneditina, franciscana, dominicana, carmelita começam por separar os que serão para sempre irmãos leigos e aqueles que serão sacerdotes para sempre. Como uma coméia que dá o alimento diferenciado condenando as abelhas que serão operárias para sempre, e as que vão ser zangões, e aquelas que vão ser rainhas. Assim a criança ou o jovem que chegava para ser religioso, se viesse do campo e de família humilde ia ser irmão, leigo, ignorante, e aqueles que vinham de famílias abastadas, instruídas, iam ser sacerdotes. Formação diferenciada, noviciado diferenciado, refeitórios, salas de recreio diferenciados, alguns conventos tinham jardins separados até com uma cerca, do lado de lá, os escravos irmãos leigos, do lado de cá os nobres sacerdotes. Era proibido aos irmãos lerem qualquer tipo de livro, muito menos a Bíblia. Mas a oração do ofício? Rezem os Pais Nossos e as Aves Marias.

                        Assim os pobres irmãos começaram a rezar as orações que lhes eram permitidas. E como os clérigos rezavam os 150 salmos, eles tinham que rezar as 150 Aves Marias. Para não se atrapalharem na contagem usavam pedrinhas. As pedras maiores eram os Pais Nossos, as menores, as 150 Aves Marias. Anos mais tarde, São Beda deu a idéia para um deles de furar as pedrinhas e passar um barbante entre elas para serem melhor de transporta-las e rezar também. Assim surge de maneira rústica do rosário que temos hoje. Só que Deus é quem age pelo lado bonito e criativo da história. Anos mais tarde descobrimos que deu esta inspiração para os pobres irmãos leigos que eram proibidos de rezar os salmos. Nossa Senhora aparece para São Domingos e vem trazendo em suas mãos o rosário. Ela endossa sua oração. E pede que ele, Domingos juntos com seus frades espalhem esta oração pelo mundo inteiro. E assim dominicanos e franciscanos levam a oração do rosário por onde vão pregar. Ela diz: “Que o soldado não vá nunca para batalhar sem estar devidamente armado”.

                        Temos esta oração excelente da Igreja, oração que tem a intercessão poderosa da Mãe de Deus, e ao mesmo tempo é Cristocêntrica. Ajuda-nos a meditar sobre todos os mistérios da vida de Nosso Senhor Jesus Cristo. O Papa João Paulo II em sua iluminação viu que estavam faltando os mistérios da vida pública de Jesus: Batismo, as Bodas de Cana, a Pregação da Boa Nova, a Transfiguração e a Última Ceia, traz para nós os mistérios da luz, pronto o rosário agora está completo.

                        Para finalizar, uma história. Conta-se que um dia no céu São Pedro viu que tinha muitas pessoas estranhas lá dentro, pessoas que não tinham passado pela porta. Vai até Nosso Senhor diz o que está acontecendo. “Mas como não passaram pela porta Pedro?”. “Não sei Senhor, estão aqui, mas por mim não passaram!”. “Mas estão devidamente trajadas, tem alguma coisa errada com elas, tem o coração santificado?”, pergunta Jesus. “Sim, Senhor, o mais estranho é isto, são pessoas santas, mas não passaram por mim!”. “Investigue, Pedro, veja o que está acontecendo!”. São Pedro então começa uma rigorosa investigação com todos os anjos ajudando-o. Procuram nos arquivos, interrogam o monte de gente, até que de tarde São Pedro vê num muro um pouco afastado, Nossa Senhora debruçada sobre o muro com o Rosário na mão puxando de vez em quando cristão.

 

                        Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!