EVANGELHO DE SÃO LUCAS

EVANGELHO DE SÃO LUCAS

 

EVANGELHO DE SÃO LUCAS

 

 

I – O AUTOR

Quem era Lucas...

Col 4, 14; Fm 24; 2 Tm 4, 11

Fragmento Muratoriano (200 d. C.):

“Terceiro Evangelho segundo Lucas. Este Lucas, um médico, tendo sido tomado, depois da Ascensão de Cristo, por Paulo como seu companheiro, quase como um advogado (= um perito), escreve-o em seu nome (por sua ordem). Contudo, ele não viu o Senhor na carne e, quando pôde, começou a sua narração pelo nascimento de João”

 

Prólogo “antimarcionita” ao Evangelho de Lucas:

“Lucas, sírio de Antioquia, médico de profissão, discípulo dos Apóstolos, mais tarde foi seguidor de Paulo até a confissão ( = martírio) dele, servindo a Deus sem delito. Não teve mulher, nem filhos, aos 74 anos morreu na Bitínia, cheio do Espírito Santo. (...) Escreveu seu Evangelho na Acaia (Grécia) (...).

 

Auto-apresentação velada, seção “nós”:

At 16, 10 – 17 (Segunda Viagem Missionária de Paulo)

At 20, 5 – 15; 21, 1 – 18; 27, 1 – 28, 16 (Terceira Viagem Missionária de Paulo)

 

Teólogo Josef Schmid:

“Lucas é um cristão proveniente do paganismo, e o único dos escritores do Novo Testamento que não é hebreu” (Aliás, o único de toda a Bíblia)

 

 

II - LUCAS, O ESCRITOR

É o que melhor escreve.

No prólogo faz profissão de ciência e consciência.

Estabelece ligação entre fatos evangélicos e história (Lc 1, 5; 2, 2; 3, 1).

Uma tradição sustenta que Maria teria morrido em Éfeso, para onde teria ido com João (Jo 19, 27). Lá, Lucas poderia tê-la conhecido.

É um escritor fiel às suas pesquisas, ao que ouviu, como a trechos do aramaico que escreve servilmente.

Seu estilo parece muito com o de Paulo.

 

III - A OBRA

 

Era uma só, a obra do Espírito Santo ora agindo em Jesus, ora agindo na Igreja.

 

Lucas escreveu em forma de um projeto geográfico: Evangelho = Galiléia para Jerusalém; Atos = Jerusalém para os confins da terra.

 

A medida que se chega em Jerusalém o conteúdo teológico fica mais denso, até que se dá a revelação do grande Mistério.

 

Nos Atos, os dois primeiros capítulos são densos de conteúdo teológico, entende-se todo os Atos dos Apóstolos, e na seqüência o texto vai se diluindo.

 

 

IV - DATA E LUGAR DA COMPOSIÇÃO

 

70 A 80 d.C.

 

Por causa da predição da destruição do Templo de Jesuralém ser muito precisa

( 19, 43 – 44; 21, 20. 24; 23, 28 – 30)

 

Cesaréia

 

Durante o cativeiro de Paulo

 

V – CHAVES DE LEITURA JUDAICA DO EVANGELHO DE LUCAS

 

Lucas é um artista da teologia Judaica. Mesmo não sendo judeu, bebeu, identificou-se e escreveu com maestria uma aprimorada teologia judaica:

A Anunciação (1, 26 ss)

Deus entra na vida

 

O que se destaca aqui é a aparição do anjo à Jovem Maria. Os anjos começam a aparecer na Escritura após o Exílio babilônico, pois é na Babilônia que os hebreus tem o primeiro contato com a idéia desses seres alados. Haviam deuses babilônicos que tinham forma humana e tinham asas. Ou seja, podiam subir e descer dos céus. Com isso quando retornam para Canaã após o cativeiro de 50 anos, eles trazem a concepção destes seres. Todas as vezes que Deus queria falar com o ser humano, era antecedido por anjos. Constatamos isso na história dos três patriarcas bíblicos: Abraão, Isaac e Jacó (Israel). Se um fato extraordinário acontecia, estava presente lá um anjo. Teologicamente a aparição do anjo significa que Deus entrou na vida da pessoa e a modificou substancialmente. Maria não foi mais a mesma após sua concepção. Deus tinha se encarnado na humanidade.

 

 

 

 


A Visitação (1, 39 ss)
Deus (O Templo) vai até a casa

 

Antes da encarnação, para o ser humano chegar perto de Deus tinha que ir ao Templo. Deus era prisioneiro do Templo. E ainda os sacerdotes afastavam o povo de Deus. Mantendo o povo distante. Deus só era acessado pelo puros, dignos, iluminados. Maria é o novo templo por excelência. Mais que o templo de Jerusalém Maria traz concretamente Deus em seu corpo. Ela é o tipo, a antecipação de todas as construções que serão depois erguidas para guardar o Senhor. Maria visitando Isabel que está em casa, simboliza para Lucas, que Deus não está mais preso ao templo, que Ele quer na verdade visitar a casa, a nossa casa. Em vez da casa ir até o templo é o templo que vai até a casa.

E quanto a saudação no Espírito Santo: Maria é a portadora daquele que possui por excelência o Espírito, e transmite com sua voz o Espírito para Isabel, e assim João Batista é consagrado em seu ventre. Nossa Senhora é a mediadora de seu filho Jesus. E nos convida a sermos também novas Marias para o mundo levando em nosso coração aquele que porta em sua natureza o próprio Espírito Santo de amor.

 

O Nascimento de Deus (2, 1 ss)
Aquele que tudo contém

 

Jesus é chamado de Messias, do hebraico Machiha, ou do grego Kristos, ou seja, aquEle que tudo contém. O cenário que Lucas monta para o nascimento de Nosso Senhor é impressionante para dizer isto: Está cercado de animais, seres humanos, plantas, até bactérias, toda criação rodeia o Menino, simbolizando que aquEle que nasceu tudo contém. Deus encarnando-se já nos salva. Pois tornou toda a criação filha no Filho de Deus. Deus nos adota já no nascimento de seu Filho. E Deus quebra com todas as concepções de um Deus punitivo, distante, que provoca temor e medo, onde está Deus... Numa manjedoura envolto em panos, e é uma criança indefesa que precisa de carinho, alimento e amor.

Nasce em Belém = Bet + Lehem, que quer dizer CASA DO PÃO. E é colocado numa MANJEDOURA = do verbo manjare = comer. Aquele que será o Pão da Vida nasce em uma cidade chamada CASA DO PÃO e é colocado em uma MANJEDOURA.

 

Os anjos aparecem para os pastores. Os pastores faziam parte da classe mais desprezada por todos. Pois viviam sem teto, muitas vezes trapaceavam em suas transações, não tinham nenhuma formação humana. É para estes que os anjos aparecem nos céus simbolizando o que... Deus entrou na vida dos pobres para transformá-la para sempre. Eles são os seus preferidos.

Apresentação no Templo (2, 22 ss)

O velho Templo e a Viúva Israel

 

 

Simeão representa o velho templo de Jerusalém que esperava durante tanto tempo chegar até ele a salvação. “Deixa o teu servo ir em paz”. Agora podia ser destruído, o Templo verdadeiro tinha chegado. E Ana representa a nação de Israel que desde que elegeu o seu primeiro rei humano, ficou viúva porque o seu esposo legítimo é o próprio Deus. Não podia ter eleito um ser humano para governa-la. Ter um templo e ter um rei humano, Deus tolera, mas não é do seu agrado.


 

Jesus aos doze anos (2, 41ss)
O Salvador tinha que falar primeiro

 

 

Para Lucas não ficava bem um ser humano falar antes do Senhor. Na teologia semítica, quem fala primeiro é mais importante. Com certeza pode ter acontecido esta passagem na vida de Jesus, porém a intenção teológica de Lucas é com certeza esta: Jesus tinha que falar antes de João Batista. “Por que me procuravam...” Agora sim, João Batista podia falar no deserto, o Salvador já tinha aberto sua boca.

 


A origem humana de Jesus(3, 23 ss)
Jesus vinculado à humanidade

 

Jesus tem as duas naturezas, sem divisão, sem confusão, uma perfeita união hipostática. Lucas destaca a natureza divina na Anunciação do Anjo e quer destacar a natureza humana, vinculando a origem de Jesus a José e a Adão. E escreve esta genealogia antes da tentação de Jesus no deserto, para dizer que, quem vai ser tentado é a própria humanidade.

A tentação de Jesus (4, 1 ss)
Prazer, poder e o ter

 

Pedra em pão, tentação dos prazeres da vida; Reinos do mundo, a tentação do ter; e o se atirar do pináculo do templo, a tentação de poder, ser igual a Deus. A mensagem de Jesus em todas elas é: MINHA OPÇÃO ÚNICA É DEUS PAI. Todo o mais não importa. Sempre que substituímos Deus pelo que não é Deus, adoramos ídolos e estamos sob o domínio da ausência de Deus: o Mal. Não podemos trocar a árvore pelos frutos. A árvore sempre é mais importante. É dela que vem os frutos. Não podemos trocar Deus por qualquer coisa criada. Deus e seu mandamento de amor deve estar sempre em primeiro lugar.

 

O programa de Jesus (4, 16 ss)
Os empobrecidos

 

A opção transparente de Jesus: pobres, presos, doentes e oprimidos. O ano da graça do Senhor: Deus veio e com destino certo: os pobres e oprimidos. E o ano da graça do Senhor é o hoje. Cristo ontem, hoje e sempre. Alfa, ômega e o hoje (Círio Pascal). Se os ensinamentos teológicos e a liturgia não servir para a prática do hoje não tem sentido.


Os primeiros discípulos (5, 1 ss)
Pescadores

 

Para os judeus, o mar é um grande símbolo do caos. CAOS é a existência ainda não tocada por Deus. COSMOS é o caos transformado pela mão de Deus. E MUNDOS é o cosmos sendo transformado pela mão humana.

A grande maioria dos apóstolos escolhidos por Jesus são pescadores. Pescadores tiram peixe do mar, mar simboliza caos. Se Jesus chama pescadores e ainda diz que eles serão pescadores de homens, Lucas quer dizer que os apóstolos e todos nós somos convidados a tirar os homens e mulheres do caos da vida. E levá-los a serem tocados por Deus.

Com esta chave se entende muitas passagens da Bíblia. Como a que nosso Senhor caminha sobre as águas. Pedro quando não olha para Jesus e sente medo, passa a ser caótico e o caos quer o que lhe pertence. Quando Jesus lhe toca, ele volta a ser cósmico. A presença de Jesus no barco acalma tudo. Na outra passagem que Jesus está dormindo. E que briga com os apóstolos por não terem fé. É porque como pensar que o barco poderia ser tragado pelo caos, se o COSMOS estava com eles. Bastava acreditar.

A travessia do mar vermelho (Ex 14, 15 ss), Jonas e a baleia (Jn 1, 1 ss) todas são passagens que simbolizam que, quem está com Deus é cósmico e o caos não pode atingir.

Paulo depois que ver Jesus na entrada de Damasco, fica cego e seus olhos ficam fechados por algo parecido com escamas. O que tem escamas?... Paulo tinha sido pescado do caos, e estava também sendo chamado para ser pescador de homens...

 


O querer (5, 12 ss)

O querer passa pela liberdade humana, algo imprescindível para Deus

 

Deus só nos cura se houver o querer. Quando o ser humano não quer, Deus não força nada. É indispensável para Nosso Senhor o querer. Por isso que Ele pergunta diante do cego: “O que tu queres...” Era óbvio que ele queria, mas Jesus precisava ouvir, deixar bem claro, ativar totalmente o querer no coração do homem.

 

A Mudança de mentalidade (5, 17 ss)
 A cura pelo telhado

A cura que se dá, sendo o doente trazido pelo telhado. Toda mudança de vida acontece quando nós mudamos nossa maneira de pensar. Realmente temos que destelhar nossos pensamentos, descer até o coração e colocar o nosso ser doente bem diante de Jesus.


O vinho Novo (5, 33 ss; At 2, 1 ss)
Sob o poder do Espírito Santo

 

O Espírito Santo é a alegria de Deus. O vinho simboliza a liberdade, a alegria de quem tem a plenitude, nada mais falta. Não há mais medo. Deus está conosco. Não é possível o Espírito habitar em velhas convenções e estruturas. Assim como o vinho novo tem que ser colocado em odres novos. Em Atos, os apóstolos estão cheios do Espírito, no original grego não está escrito que estão embriagados, mas cheios de VINHO NOVO.

 

 

Jesus é o Senhor do Sábado (6, 1 ss)
A Lei a serviço da Vida

 

Para Deus, o mais  importante é o ser humano. Tudo é para o ser humano. O destinatário do amor de Deus é o ser humano. Para Nosso Senhor não há absurdo maior que deixar um ser humano necessitado por causa da imposição de uma lei. A maior lei é a necessidade humana.
As bem-Aventuranças (6, 17 ss)
Compreensão terapêutica

“Não é o que te acontece que é importante, mas o que fazes com o que te acontece” Victor Frankl

 

Nosso Senhor Jesus apresenta nas bem-aventuranças uma compreensão da psique humana impressionante. Somente as experiências da vida nos habilitam para viver. E viver melhor. Tudo é aprendizado. Não devemos perguntar POR QUE nos acontece isso ou aquilo, mas PARA QUÊ nos acontece isso ou aquilo. A partir do momento que compreendemos o que Deus quer conosco nas alegrias ou tristezas da vida, e as vemos como aprendizado, tornamo-nos preparados para servirmos melhor ao reino. Felizes os pobres em espírito porque sabem o que é uma fome, uma necessidade e trabalharão por aqueles que nada têm, e assim serão felizes, porque construirão o Reino de Deus. Felizes os que choram porque sabem o que é uma tristeza e assim serão consoladores daqueles que sofrem...

A viúva de Naim (7, 11 ss)
A Salvação vem de Deus

 

Novamente Israel, a nação judaica, a viúva de Deus. Ela está saindo com seu filho morto. Seu único filho, o povo eleito. Se ela não tem esposo, o filho não existe mais. Ela vem da cidade dos vivos. Jesus vem de fora, da cidade dos mortos, porque os Judeus enterravam os seus mortos, fora dos muros. Se Jesus vem de fora, da cidade dos mortos, simboliza que está ressuscitado. Só Ele é capaz de devolver a vida ao povo de Deus.

 

Mãe e irmãos de Jesus (8, 1 ss)
Terra, Pátria, Religião, Mãe

 

Todo ser humano tem quatro mães: a terra, a pátria, a religião e a mãe genitora. A mãe de Jesus que os evangelhos destacam, principalmente Lucas, é a mãe religiosa. A que gerou Jesus nas Escrituras: a Sinagoga. Se a Sinagoga é a mãe de Jesus, os judeus que freqüentam a Sinagoga são os irmãos de Jesus. Com o nascimento da nova Igreja, a Cristã, os judeus da sinagoga não aceitando a mensagem de Jesus ficavam sempre de fora. A Mãe e os irmãos de Jesus estão lá fora enquanto a nova mãe e os irmãos estão lá dentro: do cristianismo.

A Transfiguração de Jesus (9, 28 ss)
A Ele que temos que escutar

 

Deus-Pai fala três vezes no N.T. apresentando Nosso Senhor Jesus como seu Filho amado, mas somente nessa que Ele pede algo para nós. E muito simples, mas vital: “Escute o meu Filho”. No batismo Deus falou que Jesus era o seu Filho amado, mas nada pede. Antes da Paixão, Deus também fala que vai glorificar o seu Filho, mas nada pede.

É quando Jesus está entre Elias que representa todos os profetas e Moisés que representa toda a Lei que Deus pede: “Escutai-O”. Seu Filho está no centro. Ele é a encarnação da Lei e da profecia encarnada. Só a Ele devemos agora escutar. Ele encarna em si toda a Escritura.

E o que Ele ensina não deve ser guardado, escondido, acomodado, não podemos armar uma tenda e permanecer no Tabor por que é bom, temos que descer com Jesus e leva-lo a todas as pessoas do mundo.

O Samaritano (10, 25 ss)
A verdadeira liturgia

 

Só os ricos na Bíblia se preocupam com a vida eterna. Porque os pobres já possuem o Reino. “O que diz as Escrituras, e como tu lês?...” Jesus pergunta isso porque a fonte de toda orientação espiritual é a Sagrada Escritura. E o mais importante: “como tu lês?...” porque a Bíblia é o que interpretamos dela. É sempre viva. Quer sempre encarnar-se em nossa vida.

“Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo”. Sim, o céu é conquistado pelo amor. Ama e terás o céu garantido. Porém, o fariseu não queria admitir que fosse tão simples. “Quem é meu próximo?...”.

E Jesus com a parábola ensina qual a verdadeira liturgia (Liturgia é o trabalho do povo para ganhar o céu: Leitor = povo. Ergon = Trabalho). Quer ganhar o céu?... Quer praticar a verdadeira liturgia?... Não seja como o sacerdote e o levita que vinham do templo, tinham acabado de exercer suas funções litúrgicas e eram incapazes de ajudar alguém que precisava. Um rito litúrgico sem a prática da vida é um absurdo.

A liturgia, a religião é para nos ajudar a sermos melhores, e ser melhor, ser humano é fazer o que Deus fez conosco, colocou-se em nosso lugar. Colocar-se no lugar do outro. Qual a diferença entre o samaritano e o sacerdote e o levita? É que o samaritano fez um exercício simples de sensibilidade, colocou-se no lugar do outro... Teve com-paixão. A cruz era para nós. Jesus assumiu o sacrifício que era nosso. A punição pelos nossos pecados recaiu sobre Ele. Assumiu nossa punição, salvou-nos do mal produzido por nosso própria iniqüidade. Devolveu-nos a humanidade. Fez-nos merecedores novamente de sermos chamados de Filhos de Deus.

O samaritano foi humano. Fez algo que o sacerdote e o levita foram incapazes de fazer, mesmo sendo os homens da liturgia do templo: colocar-se no lugar do outro. Só quem se coloca no lugar do outro pode ser humano.

Também nesta parábola Jesus deixa claro qual é a sua concepção de “próximo”, próximo é aquele que precisa de mim em qualquer lugar e a qualquer hora.

E para Jesus, a verdadeira liturgia é ajudar ao “próximo”, o que nos leva ao céu é ajudar a quem precisa. São estes gestos, estes trabalhos que temos que oferecer ao nosso Deus em nossas ações litúrgicas.

Marta e Maria (10, 38 ss)
Dentro da mesma casa

 

Marta a trabalhadeira que quer oferecer o melhor ao Senhor, e Maria, a apaixonada pelas palavras de Jesus e sua pessoa, ambas moram na mesma casa. Debaixo do mesmo teto. Lucas quer nos dizer que em nossa vida há lugar para as duas coisas que são essenciais: a oração e a ação. Não podemos viver só para a ação e nem só para a oração. Mas ambas. E entre a ação e a oração, a oração é a fonte de tudo, “a melhor parte”. Outro ensinamento constante é quanto a Marta “preocupada com muitas coisas!”, Marta estava de olho no seu trabalho, mas de olho em Maria que estava aos pés do Senhor. Não podemos ter o nosso olhar em muitas coisas. Não podemos fazer muitas coisas ao mesmo tempo. Devemos nos centrar em algo, que seja importante, é claro, mas olhar para algo de cada vez, senão nos dividimos e perdemos o equilíbrio.

A hipocrisia (11, 37 ss)
“Morno eu vomito!”

 

Em toda Sagrada Escritura nosso Deus abomina a falsidade, a hipocrisia. A palavra hipocrisia vem de HIPOCRATAS: nome dado a um tipo de máscara usada pelo teatro grego. Nome bem empregado para as pessoas fingidas. E porque Deus abomina tanto, e ainda é considerada como um pecado contra o Espírito Santo... Por que com o fingido nada se pode fazer. Ele é inatingível. O seu coração é endurecido. Não há verdade nenhuma nele. Finge ser santo, finge ser justo, mas por dentro faz maquinações e é cheio de maus sentimentos. E como Deus vê o intimo de cada ser humano, por isso que lhe causa “ânsia de vômito”. Deus prefere os pecadores, as prostitutas, os publicanos, porque eles são eles mesmos. Não há falsidade, eles são pecadores e assumem isso. E quando se reconhece o pecado, já se está no caminho da conversão.

 


As Parábolas da Misericórdia (15)
Centro do Evangelho

 

As três parábolas da misericórdia são o centro do Evangelho de Lucas. Aqui o evangelista explicita o coração de nosso Deus. Quem é nosso Deus. É o pastor que é capaz de passar dias atrás da ovelha perdida “até encontrá-la”. Procura até o fim, até encontrar, nem que seja o corpo da ovelha, mesmo sem vida. Mas o amor apaixonado de Deus por nós vai até as últimas conseqüências para nos resgatar.

Somos a moeda da mulher pobre que é vital para ela. E que ela é capaz de revirar a casa inteira “até encontrá-la”.

Somos o filho que pede para ir embora. E nesta parábola do Filho Pródigo, Nosso Senhor, com sua extraordinária simplicidade diz tudo sobre o Pai. Ele não nos quer longe dEle, mas também não nos quer presos a Ele sem vontade de estar com Ele. Deus nos quer com Ele por amor a Ele. Por isso permite tantos extravios. Porque sabe que muitas vezes só descobrimos o que é melhor depois que experimentamos o pior. Só sabe o que é a liberdade autentica quem a perdeu por conta de uma ilusão de liberdade. Só sabe ver o valor das pequenas coisas quem perde tudo.

Mas uma coisa é certa e Nosso Senhor deixa isto transparente: o Pai está dia e noite na porta de casa a espera de nosso retorno.

 

 

O administrador infiel (16, 1 ss)
O natural é o único meio que temos para subir ao sobrenatural / Divino.

 

Jesus nos surpreende com seu elogio ao administrador desonesto. Mas o ensinamento é profundo: só podemos alcançar o céu através da terra, só podemos curar nosso espírito através do nosso corpo. Só podemos atingir o mundo invisível através do mundo visível. Construímos nosso céu com todas as nossas atitudes aqui na terra.

O cego de Jericó (18, 35 ss)
A cidade mais profunda

 

Jericó é uma das cidades mais profundas da terra. Está a duzentos metros abaixo do nível do mar. A cegueira está enraizada na humanidade sentada a beira do caminho. “Jesus, Filho de Davi, tem piedade de mim pecador” esta é a nossa oração por excelência. Senhor tem piedade de nós. Somos pecadores e precisamos de ti. Devolve-nos Senhor a visão aos nossos olhos que se fecham com o pecado de Adão.

Devolve nossa visão para que nós não façamos mais como nossos pais Adão e Eva, que o Senhor saiu para passear no jardim e eles não foram junto. Devolve nossa visão para que nós possamos agora, vendo, seguir-te pelo CAMINHO, glorificando a nosso Deus por ter-nos dado a VIDA.



Zaqueu (19, 1 ss)

É preciso subir para ver


Zaqueu queria ver “Quem” era Jesus. Não ver Jesus. Para ver a identidade de Jesus temos que subir a árvore, não é o abacateiro ou o sicômoro, na torre ou montanha, não é um espaço físico ou algo do espaço físico e geográfico, mas subir à intimidade total com Deus. “Corações ao alto!”.
Quer ver quem é Jesus... Quer conhecer a identidade de Jesus? Suba no lenho da cruz.

 

Emaús (24, 13 ss)
Jesus = partilha do Pão

 

Jesus partiu o pão e os olhos deles se abriram e o reconheceram e Ele desapareceu. Após a decepção, o escândalo da Cruz, os discípulos voltam tristes e desanimados para suas vidas de antes. A Paixão os chocou terrivelmente, não entenderam que a Salvação tinha que passar pelo fracasso e pela morte. Que o Deus poderoso veio para nos curar do orgulho de sermos como deuses. Envoltos pela tristeza não conseguiram ver Jesus que estava caminhando ao seu lado. Quando estamos frustrados, quando não aceitamos os acontecimentos que vem sem a nossa vontade, não conseguimos ver Deus presente neles. Mas é a Palavra de Deus que nos faz ver melhor. Ela que aquece o nosso coração novamente e prepara nossos olhos para vermos Jesus num gesto simples, mas vital de partir o pão. Agora encontraremos o Senhor na partilha do pão. Toda vez que o Pão de nossa vida é partilhado nossos olhos se abrem e podemos ver Jesus.

 

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

 

DIAS DA SILVA, Cássio Murilo. Metodologia de exegese Bíblica. São Paulo: Paulinas 2000. (2ª edição: 2003).

 

CIPRIANI, Vitório. Curso de Espiritualidade Judaica. (Aulas Expositivas) Itesc, 2004/2005.

 

BENETTI, Santos. Sexualidade e erotismo na Bíblia . São Paulo: Paulinas, 1998.

 

MESTERS, Carlos. Os Dez Mandamentos – Ferramenta da comunidade. São Paulo: Paulus, 2003.

 

MESTERS, Carlos. A Bíblia – livro feito em mutirão. São Paulo: 1983.

 

                      ANTONIAZZI, Alberto. ABC da Bíblia. São Paulo:Paulus, 1982.

 

                      GASS, Ildo Bohn. (Org.) Uma introdução à Bíblia – A serviço da leitura libertadora da Bíblia. São Paulo: 2002.