A LITURGIA DAS HORAS

A LITURGIA DAS HORAS

 

A LITURGIA DAS HORAS

 

“O homem matinal nasce cada dia do seio de Deus, como na manhã da criação, emergindo das profundezas da noite com o Cristo ressuscitado, e torna-se luz a iluminar a jornada de seus irmãos na fé, aguardando na esperança o encontro definitivo com o seu Deus na glória eterna.”

 

                                                                                  (Rezar em Comunidade, 1985, p. 72)

                       

                        Os livros das Escrituras evidenciam de muitas formas a importância que “os momentos de oração” tinham na vida pessoal, familiar e comunitária do povo de Israel.

                        Pontos de referência obrigatória para a santificação das horas eram a Oração da Manhã e da Tarde rezadas no mesmo momento em que, no Templo de Jerusalém, ofereciam-se os Holocaustos.

                        Olhando os livros do Novo Testamento, em particular Lc. 18,1 e At 2, 15; 3, 1, podemos, sem dúvida, concluir que também Jesus e a Igreja primitiva inspiravam-se nessa tradição de oração cotidiana. E a Sacrossanctum Concilium retomando esses valores no número 84 afirma que “é a voz da própria Esposa que fala com o Esposo, ou melhor, é a oração de Cristo, com seu próprio Corpo, ao Pai”.

                        Paulo VI na Ludis canticum, afirma: “È muito desejável que a oração pública da Igreja brote de ampla renovação espiritual e da comprovada necessidade intrínseca de todo o corpo da Igreja. Esta, à semelhança do seu Chefe, só pode apresentar-se como Igreja orante”.

 

 

A VOCAÇÃO INTEGRAL DO HOMEM

 

                        Queremos primeiramente situar a oração em geral no contexto da vocação integral do homem. Temos, por vezes, a impressão de que a oração é colocada mais na linha da obrigação do que na da vocação. Esquecemos que, antes de sermos obrigados à oração, a ela somos chamados; antes de ser um dever, ela constitui uma vocação. Assim, o dever surge da vocação.

                        O homem constitui um ser chamado para a comunhão eterna com Deus, em harmoniosa união com os outros homens, seus companheiros no amor, abraçando toda a realidade criada. Uma perspectiva maravilhosa que transparece claramente no primeiro capítulo da Epístola aos Efésios e nos primeiros capítulos do Gênesis.

                        Na Epístola aos Efésios podemos ler Ef 1, 3-5. E, um pouco adiante, lemos Ef 1, 11-12 e Ef 1, 14.

                        É a descrição do fim último do homem. Escolhido antes da criação do mundo para ser: santo e irrepreensível diante de Deus, que nos predestinou no seu amor, adotando-nos como filhos por Jesus Cristo. Eis, pois, o homem como ser vocacionado, orientado para o próprio Deus, chamado a participar de sua vida, do seu amor, de sua felicidade, de sua imortalidade.

                        (O ser humano) vivia feliz. Símbolo desta felicidade é o paraíso. Ele podia ser imortal; o que vem expresso pela árvore da vida. Mas havia a possibilidade de fracassar pelo abuso de um grande dom recebido de Deus: a liberdade, representada pela árvore do bem e do mal. Ele poderia corresponder à sua vocação ou falhar desgraçadamente.

                        No seu relacionamento de filho (sacerdote) em relação a Deus, ele tende a ser rebelde. Em vez de servo ele quer ser senhor, “igual a Deus”. “O homem e a mulher esconderam-se da face do Senhor Deus, no meio das árvores do jardim” (Gn 3, 8). Desfez-se o mistério de comunhão com o Deus que “passeava no jardim à brisa da tarde” (Gn 3, 8); o homem se oculta da face do Senhor, ele se fecha dentro de si mesmo.

                        Este desequilíbrio do homem em relação a Deus manifesta-se no seu relacionamento com o próximo e toda a natureza criada.

 

A CONVERSÃO

 

                        O homem deixou de ser criatura voltada para Deus, foge de sua face, mas Deus continua voltado, aberto para o homem pelo diálogo como no caso de Adão e Eva e de Caim (Gn 3, 15; 4,9). Deus continua chamando o homem à sua vocação última e terrena, à sua vocação integral, bastando que ele volte e se volte novamente para o seu Deus.

                        Este converter-se, este voltar-se cada vez mais para Deus não tem limites. A conversão torna-se, pois, um contínuo voltar-se para Deus, para o próximo e para a natureza criada, segundo Deus. A conversão é a própria realização da vocação integral do homem.

                        As Escrituras mostram como Abraão respondeu ao chamado de Deus por um duro processo de conversão. Mais tarde, Deus chama um povo, onde são feitas as mesmas exigências de conversão e as mesmas promessas, o povo de Israel.

                        A realização desta vocação através de uma pessoa e de um povo era uma realização imperfeita e incompleta em vista da grande iniciativa de Deus, através da qual todos os homens poderiam inserir-se novamente em sua vocação integral: a Encarnação do Verbo de Deus, o homem perfeito, o segundo Adão, Jesus Cristo, o perfeito realizador da vocação integral do homem.

                        Onde houver boa vontade, onde houver amor, aí Deus estará, pois haverá justificação em Cristo. Assim surgem os dois aspectos da Igreja de Cristo. Primeiro, no sentido amplo, a Igreja como mistério de vida divina no conjunto de todos os que amam a Deus, em todos os que tenham boa vontade, pois aí continua a obra de Cristo. Segundo, a comunidade visível dos que crêem conscientemente em Cristo e participam de seus sacramentos procurando viver uma vida mais consciente no amor através da vocação e da missão batismal.

 

 

A ORAÇÃO NA VOCAÇÃO INTEGRAL DO SER HUMANO

 

                        Numa tentativa de intuir o que seja oração, diria que ela é uma experiência de comunicação com o divino, diretamente, ou através do próximo e da natureza criada.

                        Esta comunicação pode realizar-se em forma de pergunta, em forma de resposta e em forma de comunhão pura e simples. Teríamos, pois, três tipos, modalidades ou facetas da oração.

 

 

                        ORAÇÃO-PROCURA

 

                        Somos convidados a refletir, a abrir-nos diante da realidade à escuta de uma resposta que brotará no fundo do nosso ser. Colocar-nos-emos em atitude de ausculta diante de vários livros abertos diante de nós, para descobrirmos nossa vocação e missão.

                        O primeiro deles é certamente o livro da nossa inteligência e da nossa consciência. Abriremos também o livro da natureza criada, dos acontecimentos e do próximo, que constitui um sacramento da presença e da bondade de Deus. Meditaremos as Sagradas Escrituras, onde de maneira particular nos foi revelado o pleno de Deus a respeito do homem; lá encontraremos os exemplos de Cristo para a nossa meditação e imitação.

                        Trata-se, portanto, de colocar-se em estado de ausculta, de abertura para uma resposta que certamente brotará dentro de nós, pois Deus está em nós pelas virtudes teologais da fé, da esperança e da caridade.

 

                        ORAÇÃO RESPOSTA OU CONVERSÃO

 

                        A oração-resposta brota da consciência de nossa vocação, do sentido de nossa vida. O ser humano reconcilia-se com a realidade toda: aceita sua condição de criatura em relação a Deus, a harmoniosa convivência com o próximo e sua condição de Senhor da natureza criada.

 

                        ORAÇÃO-UNIÃO

 

                        Mas a oração não é só a procura do sentido da vida, nem a resposta à vontade de Deus que se manifesta. Ela constitui a vivência da própria realidade suprema, a vocação última do homem: a comunhão de amor e de vida com Deus. É o mistério do esposo e da esposa.

                        Esta modalidade de oração transfigura, pois ultrapassa todo liame temporal e limitado; é a total libertação, a plena reconciliação com todas as coisas. Repete as mesmas palavras, ou já não usa palavras, pois ultrapassa as palavras; é antes a total comunhão na linguagem do silêncio. São momentos de Tabor, que reanimam, inspiram e reabastecem, para que possamos descer à planície e subir com o Cristo a colina do Calvário, para que também este se transfigure. Tal tipo de comunicação com Deus nos será concedido como dom, se soubermos pronunciar o nosso “Faça-se” a exemplo de Maria.

                        Não devemos considerar estes tipos de oração como formas cronologicamente sucessivas, mas antes como aspectos da mesma realidade profunda de comunicação com Deus, diretamente, ou através do próximo ou da natureza. É bem possível que permaneçamos no aspecto da procura. Pode acontecer superar de imediato esta etapa, para exercermos logo a oração-resposta. Ou, quem sabe, outros corações privilegiados consigam imediatamente a comunhão profunda com Deus, na oração afetiva, ou no silêncio total, onde a palavra se torna estorvo.

 

 

ORAÇÃO PARTICULAR E ORAÇÃO COMUNITÁRIA

 

                        A oração particular e a oração comunitária são duas formas de oração que não se contrapõem, mas se complementam, contanto que realmente sejam oração. Digo particular e comunitária e não pessoal e comunitária, pois ambas as formas, para serem oração, deverão ser pessoais.

                        As palavras de Cristo sobre a oração, dizendo que “quando orardes entra no teu quarto fecha e porta e ora a teu pai em silencio” (Mt. 6,6). E Paulo exorta a que “os homens rezem em todo lugar, levantando mãos puras, sem ressentimento e sem contenda” (1 Tm 2, 8)

                        Santo Ambrósio, falando sobre a oração, estranha que Cristo ensina uma coisa e Paulo outra, mas ele chega à conclusão que Paulo não pode ensinar preceitos contrários aos de Cristo. O cristão pode rezar em toda a parte e rezar sempre em seu quarto. Por toda parte, dispões de teu quarto. Mesmo que estejas em meio aos gentios, em meio aos judeus. Teu quarto é teu espírito, mesmo que estejas em meio ao povo: conservas, no entanto, no teu interior, o quarto fechado e secreto… Tua oração, portanto não proceda apenas de teus lábios. Sê atento, todo inteiro do teu espírito. Entra, todo, no recesso do teu coração”.

                        As duas formas se completam e se alimentam. A oração individual ou particular prepara e alimenta a oração comunitária, e a oração comunitária, por sua vez é fonte e ápice da oração individual, pois na oração comunitária temos a garantia da especial presença de Cristo.

                        A oração particular e a oração comunitária são dois canais diferentes de comunicação com o mistério. Uns têm maior facilidade em uma modalidade, outros, na outra.

                        Na liturgia da palavra temos, sobretudo, a busca, a abertura para descobrirmos a vontade de Deus; confrontamos nossa vida com a palavra proclamada. Na oração dos fiéis, realçada a resposta de louvor, de agradecimento, de pedido; na Comunhão realiza-se, de maneira particular, o encontro; é o momento da comunhão, do silencio, onde muitas vezes as palavras mais atrapalham do que ajudam.

                        Mas a oração comunitária terá que ser como que preparada ou alimentada pela oração individual. Diria mais: a nossa oração comunitária ou litúrgica seria intensa e profunda na medida em que a nossa oração individual o for.

                        Oração é, pois, conversão que realiza a comunhão com o divino em nós, diretamente, através dos outros e pela natureza criada. Faz emergir já agora a realidade última do homem; constitui, pois, uma vivencia escatológica no presente. Por isso mesmo, é uma reconciliação com a totalidade do Ser; é um abrir-se para o Ser; um acolher o mistério do Ser em nós mesmos, o que constitui uma libertação do homem de tudo quanto o possa escravizar.

                        Assim, aos poucos, toda a vida do homem pode ir transformando-se em oração, em experiência de Deus, em comunhão com o mistério. Toda a realidade vai-se tornando transparente de Deus.

                        Temos, então, a oração-exercicio e a oração-atitude. Para que toda a vida do homem se torne oração–atitude é necessário que ele pratique a oração-exercício. E, por outro lado, vivendo a dimensão orante na oração-exercicio, no estudo, no trabalho, no lazer e no sofrimento, ele já esta sendo apostólico. 

                        E nisso consiste fundamentalmente a contemplação.

                        Pela oração particular e comunitária somos constituídos mediadores entre Deus e a humanidade toda, entre Deus e toda a natureza criada, no louvor e na intercessão, em favor dos homens, prolongando neste mundo o dialogo de Cristo com o Pai.

 

 

O QUE É A LITURGIA DAS HORAS

 

                        As duas expressões mais freqüentes da espiritualidade cristã comunitária são a Eucaristia e a Oração em comum, expressa em geral na Liturgia das Horas.

 

O LOGOTIPO

 

                         Na tradução brasileira o Livro das Horas apresenta sua identidade pelo logotipo: 1) Um relógio: Representa o ritmo da oração diária, em horas determinadas. 2) Esse relógio representa ao mesmo tempo a comunidade reunida. A Liturgia das Horas é a oração da Igreja reunida, a oração da assembléia. 3) As chamas que nascem da lâmpada representam as cinco horas de fato celebradas por toda a Igreja: Oração da manhã, Oração da tarde, Oração durante o dia, Oração da noite e Oficio das leituras. 4) Essas horas de oração da Igreja formam o sacrifício de louvor a Deus, o “sacrificium laudis”. 5) Vivendo em oração, a Igreja se transfigura e torna-se testemunho pela luz que irradia.

 

AS ORIGENS NO ANTIGO TESTAMENTO

 

                        O ritmo da oração diária da Igreja, chamada Liturgia das Horas, tem suas origens na experiência religiosa do povo de Deus do Antigo Testamento. Libertado do Egito, fez uma aliança com Deus aos pés do Monte Sinai e adquiriu como herança a Terra Prometida. Uma vez que de posse da terra, esse povo revivia sua grande experiência pascal na celebração anual, semanal e diária da Páscoa. Esta celebração diária da Páscoa em comunhão com os sacrifícios do templo está na base da Liturgia das Horas da Igreja. Duas vezes por dia, pela tarde e pela manha, o piedoso Israelita suspendia suas atividades, onde quer que estivesse, e elevava a Deus uma prece de ação de graças pelos benefícios recebidos na história do povo. Esta experiência diária do tempo podia, então, servir de sinal ou sacramento, da Páscoa do povo de Israel da escravidão do Egito para a posse da Terra Prometida, por obra de Deus.

 

JESUS CRISTO, A VERDADEIRA PÁSCOA, O NOVO CONTEÚDO DA ORAÇAO CRISTÃ

 

                        Jesus Cristo, em sua vida histórica, acompanhava este ritmo de oração diária de seu povo. Mas quis que fosse purificada da hipocrisia, da ostentação, e da multiplicação de palavras à maneira da oração dos hipócritas e dos pagãos (cf. Mt. 6,5.7)

                        Entre muitos outros mistérios de sua vida, temos o exercício da oração. Jesus passava dias e noites em oração no deserto e nas montanhas, exercendo pela oração a grande obra mediadora entre Deus e os homens. Nestes colóquios de Jesus Cristo com o Pai realizava-se o grande colóquio entre Deus e os homens.

                        O conteúdo da oração cristã é novo. É reunir-se em nome de Jesus Cristo. É dar graças em sua memória. Ele a verdadeira Páscoa (cf. Lc. 22,19). Este novo conteúdo esta sintetizado no Pai-nosso: O Reino de Deus, o Pai, a santificação de seu nome, a realização de seu plano, revelado e realizado em Jesus Cristo. A ação de graças da Igreja deve ter como conteúdo a pessoa de Jesus Cristo, tudo aquilo que Ele significa na história da humanidade. O novo conteúdo é, pois, o mistério de Cristo, compreendendo todo o seu Corpo, Cabeça e membros.

 

 

 

 

SUA ORGANIZAÇÃO ECLESIAL

 

                        A Igreja nascente tinha consciência de sua vocação de comunidade orante. A comunidade encontra-se reunida em oração em momentos fortes de sua vida (cf. Atos 1,14; 1,24; 4,23-31; 12,13).

                        Existem alguns horários privilegiados (Atos 10,9; 16,25). E dizem os Atos que “perseveravam eles na doutrina dos apóstolos, na fração do pão e nas orações” (Atos 2,42). Um pouco adiante se diz: “Unidos de coração, freqüentavam todos os dias o templo. Partiam o pão nas casas e tomavam a comida em alegria e singeleza de coração, louvando a Deus e cativando a simpatia de todo o povo” (Atos 2,46-47). Hipólito de Roma, pelo ano 220, nos fala das diversas horas de oração dos cristãos, dando-nos, ao mesmo tempo, o sentido de cada hora. A partir do século IV, porém, vão-se firmando duas tradições de oração comunitária da Igreja: O Ofício da Igreja Catedral e o Ofício Monástico. Estas duas tradições têm sua origem em duas maneiras diferentes de computar o tempo do dia.

 

OFÍCIO DA IGREJA CATEDRAL

 

                        Inspira-se no cômputo do tempo dos judeus: a experiência pascal diária pela tarde e pela manhã. Surgiu então as Matinas ou Laudes; as Vésperas. Esporadicamente havia ainda a Vigília noturna. Primeiramente nas grandes vigílias anuais da Páscoa e de Pentecostes, do Natal e da Epifania. Vigílias das Ordenações e as Vigias das Quatro Têmporas, com rogações especiais, ligadas às quatro estações do ano. Participavam todo o povo: Bispo, presbíteros, diáconos, ministros, religiosos e leigos.

 

OFÍCIO MONÁSTICO

 

                        Seguia-se a maneira romana de computar do tempo do dia: as Vigílias. Cada vigília compreendia três horas. São os monges que organizam o ritmo de sua oração segundo as vigílias romanas. Eles querem cultivar a oração como o grande Ofício de louvor: “Vigiai e orai, para não cairdes em tentação” (Mt 26, 41) “Orar sempre sem jamais deixar de faze-lo”(Lc 18, 1 e Lc 21, 36).

Surge, então, o Ofício monástico, com as seguintes horas de oração:

 

Laudes – 06 h                                     Vésperas – 18 h

Terça – 09 h                                       I Noturno – 21 h

Sexta – 12 h                                      II Noturno – 24 h

Nona – 15 h                                     III Noturno – 03 h

 

                        Mais tarde, introduziram-se a Prima, ligada ao início dos trabalhos do dia, e as Completas como encerramento do dia. Mais tarde, com a decadência do Ofício Catedral, a forma monástica das 8 horas, no ritmo das vigílias, mais a Prima e as Completas, espalhou-se por toda a Igreja, sobretudo sob a influência dos franciscanos, que por ordem do fundador haviam adotado um tal Oficio, usado na Cúria Romana. Mas em sua sobrecarga monástica, esta forma de oração restringiu-se praticamente aos religiosos e ao clero, deixando o povo distante, com suas devoções.

 

 

O QUE É MESMO A LITURGIA DAS HORAS

 

                        A Liturgia das Horas constitui uma das muitas formas de vivência do Mistério de Cristo e, portanto, do mistério do homem. Deve ser colocada na linha de toda a experiência do mistério através do rito.

                        A comunicação com o divino em nós ou a experiência do mistério pode inserir-se dentro da experiência anual do tempo: o Ano Litúrgico. Pode inserir-se dentro da semana, na experiência pascal do trabalho e do repouso: a Semana Litúrgica, iluminada pelo Domingo. E pode inserir-se também no dia: o Dia Litúrgico. A Liturgia das Horas insere-se fundamentalmente no Dia Litúrgico. Constitui uma experiência do mistério pascal na experiência diária do tempo capaz de evocar o Mistério Pascal de Cristo e de seus membros. Podemos dizer então que a Liturgia das Horas é uma experiência diária do Mistério Pascal a partir do ritmo do dia. É o louvor da Igreja pelo mistério de Cristo, a partir da luz, para a santificação especial do tempo.

                        Num sentido mais amplo, a Liturgia das Horas está inserida dentro de uma semana. Temos então uma experiência semanal do Mistério pascal. Domingo, o Dia do Senhor, a Ressurreição de Cristo e da Igreja. 

Segunda-feira, a vocação da Igreja, o mistério de Pentecostes.

Terça-feira, a missão da Igreja, sua dimensão apostólica.

Quarta-feira, o testemunho e martírio da Igreja, testemunho que ela vê realizado nos santos, que por sua vez se tornam seus patronos.

Quinta-feira, o novo mandamento, o lava-pés, a Ceia, a Igreja.

Sexta-feira, a Paixão e Morte de Cristo, o pecado, a penitencia, a reconciliação.

Sábado, a escatologia, contemplada em Maria. As facetas de cada dia estão expressas na escolha dos salmos, nas orações finais e, sobretudo, nas preces.

 

A LITURGIA DAS HORAS COMO A TEMOS HOJE

 

                        Dentro da grande reforma litúrgica proposta pelo Concílio Vaticano II está também a reforma e a atualização do Ofício Divino ou Liturgia das Horas. Ela foi levada a efeito por sete Comissões internacionais que apresentaram mais de 100 esquemas de trabalho à Comissão Executiva da Constituição Litúrgica do Concílio. Finalmente, em 1970 a obra pode ser promulgada por Paulo VI, em latim, compreendendo 4 volumes.

                        São chamados a esta forma de oração não só os clérigos e os consagrados, mas todos os fiéis. Sua expressão mais completa e perfeita é a da Igreja Catedral. Depois vem a Paróquia, os grupos de fiéis, os cabidos catedrais, as comunidades religiosas e a família, todos eles grupos eclesiais.

 

 

 

LITURGIA DAS HORAS, PÁSCOA DE CRISTO E DA IGREJA

 

                         A experiência pascal originária da Liturgia das Horas está ligada a vivencia diária do mistério pascal, a partir do ritmo da luz, como na oração diária dos judeus. Trata-se de uma experiência de morte e vida, na experiência diária de trevas e luz, de noite e dia, de tarde e manhã. Por isso, nossa tentação seria iniciarmos com a Oração da Tarde, ordem que ainda podemos constatar nas Solenidades e nos Domingos, que tem Oração da Tarde na Véspera. Vamos ater-nos a ordem atual, realçando as duas Horas principais, a Oração da Manhã e a Oração da Tarde, que formam os dois gonzos do Ofício cotidiano. 

 

O INVITATÓRIO

 

                        O Invitatório não é propriamente uma Hora, mas dinstingue-se da primeira Hora do dia, a qual precede, como convite a oração. O Ofício todo é introduzido normalmente pelo Invitatório, que consta do verso: ‘Abri os meus lábios, ó Senhor. E minha boca anunciará vosso louvor’, com o salmo 94. Com esse invitatório os fieis são convidados cada dia a cantar os louvores de Deus e a escutar sua voz, e são incentivados a desejar o ‘descanso do Senhor’. Contudo, se parecer oportuno, o salmo 94 pode ser substituído pelos salmos 99, 66 ou 23 (Intr. Geral à Liturgia das Horas, n. 34). O Invitatório mostra que todo o ciclo da oração cotidiana constitui uma experiência pascal.

 

A ORAÇÃO DA MANHÃ

 

                        A Oração da Manhã, chamada também de Louvor matinal ou Laudes, é o louvor da Igreja pelo mistério de Cristo, sobretudo de seu aspecto glorioso: a Ressurreição. O sol que desponta, dando forma e beleza a todas as coisas, o levantar-se, o reiniciar dos trabalhos, o alimento, são símbolos da vida e ponto de partida para o louvor de Deus. Cada louvor matinal constitui uma pequena celebração da Ressurreição de Cristo e da nossa Ressurreição com Ele.

                        O Hino – costuma ser um hino matinal; fala, em forma poética, da luz, do sol, do dia, do tempo concedido ao homem para servir e dar glória a Deus, o Senhor do tempo. Por isso, na substituição do hino previsto por outro adequado, deve-se ter sempre em consideração o aspecto matinal do hino, bem como o mistério do tempo ou da festa. O hino lança a comunidade no louvor matinal e no mistério evocado. (cf. n. 173 e 178).

                        A Salmodia – “A Salmodia da Oração da Manhã consta de um salmo matutino, seguido de um cântico do Antigo Testamento, e de outro salmo de louvor” (cf. n. 43). A Salmodia tem um caráter de louvor pela criação do mundo e do homem e pela nova criação em Cristo Jesus. Pelos salmos a Igreja dá graças a Deus pelo Cristo ressuscitado e pela vida nova trazida por Ele aos homens, como luz do mundo. O primeiro salmo faz sempre referência à luz, ao despontar do novo dia, como expressão da obra criadora de Deus por Jesus Cristo. Segue um Cântico pascal do Antigo Testamento. Os cânticos são pequenas composições poéticas incrustadas em livros de prosa do Antigo e do Novo Testamento. São expressões de exultação por experiências pascais vividas na historia de um povo, ou diante da obra de Cristo Redentor. Quando rezamos na Liturgia das Horas, já não são expressões, vétero-testamentárias. À luz do Novo Testamento, expressam experiências pascais vividas pela Igreja em Cristo ressuscitado. O terceiro elemento da salmodia é um salmo de louvor, um laudate, isto é dado à Igreja viver o mistério de Cristo. As antífonas que emolduram os salmos e cânticos realçam o caráter matutino e pascal da Hora, bem como o mistério celebrado.

                        A Leitura breve – Este nome seria melhor do que Palavra de Deus, pois na Liturgia das Horas quase tudo, inclusive os salmos, é Palavra de Deus. “A leitura muda, de acordo com o dia, o tempo ou a festa. Deve ser lida e ouvida como verdadeira proclamação da palavra de Deus, frisando algum pensamento bíblico” (n. 45). A Leitura breve da Oração da Manhã constitui um verdadeiro programa de vida para o dia que inicia em Cristo ressuscitado.

                        O Cântico Evangélico – Na Oração da Manhã o Cântico Evangélico é o Cântico de Zacarias. Podemos dizer que é o ponto alto da celebração. Seu caráter pascal e matutino transparece muito claramente. Fala de “Sol nascente que nos veio visitar, lá do alto como luz resplandecente a iluminar a quantos que jazem entre as trevas e na sombra da morte estão sentados e no caminho da paz guiar nossos passos”. Ele expressa o louvor e a ação de graças pela Redenção (cf. n. 50). Sendo um texto do Evangelho, é proclamado de pé e com outras reverências, como sinal da cruz, próprias da proclamação solene do Evangelho.

                        As Preces – As Preces da Oração da Manhã têm caráter diferente das preces da oração da Tarde. Se estas são de intercessão, as da Manhã são chamadas invocações para recomendar ou consagrar o dia ao Senhor (cf. n. 181). Serão também de louvor a Deus, de confissão de sua gloria e lembrança da História da Salvação (cf. n 185). Nas preces da Oração da Manha os cristãos se propõem a viver de acordo com sua vocação de ressuscitados com Cristo no Batismo e sua missão de colaborar na obra do Deus criador e do Cristo Libertador do homem.

                        O Pai-Nosso – Toda a oração é resumida e completada na oração ensinada pelo Senhor, em que se expressa a vocação do homem no seu relacionamento com Deus como Filho, sua relação com o mundo criado, sustentado pelo alimento de cada dia, e em sua relação com o próximo, com o irmão, a quem ele deve perdoar como o Pai do céu perdoa. Conforme a nova Liturgia, o Pai-Nosso é rezado três vezes por dia pela Igreja, na Oração da Manhã, na Missa, e na Oração da Tarde.

 

ORAÇÃO DURANTE O DIA

 

                        São três as horas de Oração durante o dia, antes chamadas Horas Menores: A Oração das Nove, a Oração das Doze e a Oração das Quinze Horas.

                        A Oração das Nove está relacionada com o Mistério de Pentecostes e com a hora em que Cristo foi entregue à morte.

                        A Oração das Doze contempla o Cristo na Cruz e lembra a própria oração de Jesus suspenso entre o céu e a terra.

                        A Oração das Quinze é ligada pela tradição à morte de Cristo na Cruz e do Cristo morto transpassado pela lança. Tem, portanto, algo em comum com as Vésperas.

                        As três horas acompanham os passos de Cristo em sua Paixão. A Igreja, por sua vez, contempla sua vocação no Mistério de Pentecostes, revive sua Paixão e o próprio martírio na luta pela vida e em sua missão apostólica. Cristo continua a sofrer na sua Igreja, Cristo continua a morrer na sua Igreja. O cristão sente o cansaço na caminhada do dia, tanto no trabalho, como no seu relacionamento humano. Assim como ele interrompe o trabalho para conceder o alimento e o repouso necessários ao corpo, convém que também se alimente espiritualmente pela oração.

                        O cristão se solidariza com o mesmo Cristo padecente na humanidade sofredora, dando a voz a todos que prolongam a Paixão de Cristo na história, pela oração de salmos de perseguição, dos inimigos do povo de Deus, com salmos de confiança do homem temente a Deus. É a oração da Igreja em meio aos trabalhos, é Cristo clamando no pobre, no oprimido, no marginalizado, em todo homem necessitado de salvação. Temos nestas orações a dimensão do sofrimento e da cruz do mistério pascal.

 

 

A ORAÇAO DA TARDE

 

                        Com a Oração da Manhã, a Oração da Tarde ou Vésperas está entre as horas principais do dia. São os louvores vespertinos ou simplesmente Vésperas. A Oração da Tarde comemora o mesmo mistério Pascal de Cristo e da Igreja, mas evoca de modo particular os mistérios da tarde. O sol declina, surgem as trevas, o homem descansa do trabalho. É o ponto de partida para o louvor. A oração da tarde é celebrada quando anoitece, para agradecer o que nele temos recebido ou o bem que nele fizemos. Isso pode também entender-se no sentido mais sagrado daquele verdadeiro sacrifício vespertino que nosso Senhor e Salvador entregou aos apóstolos, enquanto ceavam juntos, ao instituir os sacrossantos mistérios da Igreja. Ou também daquele outro sacrifício da plenitude dos tempos quando no dia seguinte Ele estendendo as mãos se entregou ao Pai.

                        É o grande sacrifício de louvor e agradecimento em comunhão com o sacrifício da Cruz de Cristo. Podemos dizer que a caminhada da Igreja ao encontro de Cristo, seu esposo, é o grande motivo do louvor vespertino.

                        O Hino – Louva a Deus, contemplando os seus benefícios a Igreja e a todos os homens e pede que recompense os que se manifestaram fiéis.

                        A Salmodia – É bem diversa da salmodia da Oração da Manhã temos dois salmos ou duas partes de um salmo que expressam o agradecimento, o louvor o sacrifício da Igreja. Segue um cântico tirado das Epistolas ou do Apocalipse. Este cântico celebra o cordeiro imolado e glorioso a quem a Igreja canta um cântico novo.

                        A Leitura breve – Por causa deste cântico do Novo Testamento, a Leitura breve que segue é sempre tirada do Novo Testamento. Esse texto aprofunda a redenção do homem em Cristo e as exigências que daí decorrem para a vida dos cristãos.

                        O Cântico Evangélico – a proclamação do Magnificat é um momento de exultação de louvor. A Igreja louva e da graças pela salvação em comunhão com Maria, a Mãe do Redentor.

                        As Preces - na oração da tarde as preces são de intercessão. Depois de ter rendido graças a Deus por seus benefícios, depois de ter recordado os grandes benefícios da historia da salvação, sobretudo na obra redentora de Cristo, a Igreja intercede. “Na Liturgia das Horas, de modo especial, a Oração de toda a Igreja por toda a Igreja e ainda para a salvação do mundo inteiro.”

                        A Igreja, revestida do poder sacerdotal de Cristo pede que as graças do sacrifício redentor da cruz de Cristo se derramem sobre todos os membros necessitados da mesma Igreja e sobre todos os homens.

  

ORAÇÃO DA NOITE

 

                        Também chamada de Completas. É de certa maneira um complemento da Oração da Tarde, realçando o aspecto escatológico e de encomendação da pessoa a Deus. Os salmos são de confiança. É a oração que completa o ciclo do dia.

                        A Igreja hoje não insiste no aspecto comunitário desta Oração. Diz a introdução: “A Oração da Noite é a última do dia, e se reza antes do descanso, mesmo passada a meia-noite se for o caso” (n. 84). Falando dos presbíteros, se diz: “Com ela (a Oração da Noite) eles concluem `a obra de Deus’antes de se deitarem, e a Deus se encomendam” (n. 29).

                        A dimensão escatológica manifesta-se de modo significativo no Cântico de Simeão, o ápice da Hora inteira. Está presente ainda no Responsório, na oração final e na Antífona de Nossa Senhora que encerra a Oração. Maria constitui o grande sinal escatológico da Igreja. Nela já se consumou em plenitude o plano de Deus, ao passo que a Igreja ainda se encontra a caminho.

 

OFÍCIO DAS LEITURAS

 

                        Também por esta Hora a Igreja vive o mistério pascal de Cristo. Originariamente tratava-se de uma vigília noturna ou, na tradição monástica, de três momentos de oração durante a noite, os três Noturnos. Assim como Nosso Senhor, a Igreja é chamada também a vigiar em oração.

                        Hoje a Igreja não insiste mais no caráter noturno do Ofício das Leituras. Horas apropriadas para essa Oração continuam sendo a hora matinal, antes da Oração da Manhã, e a hora noturna, depois da Oração da Tarde (n. 58 e 59).

                        “O Ofício das Leituras quer apresentar ao povo de Deus, muito especialmente aos que de modo peculiar estão consagrados ao Senhor, meditação mais substanciosa da Sagrada Escritura e as melhores páginas de autores espirituais” (n.55).

 

                         ALGUMAS CONSIDERAÇÕES A MAIS

 

                        Podemos dizer que toda experiência de comunicação com Deus em Cristo constitui uma experiência Pascal. É uma passagem para a esfera, para o espaço de Deus. Realiza-se uma comunhão com Deus. É a razão de ser ultima do homem.

                        A celebração da Eucaristia é insuperavelmente preparada por meio da Liturgia das Horas. Nesta se despertam e se alimentam adequadamente as disposições necessárias para celebrar com proveito a Eucaristia, quais são a fé, a esperança, a caridade, a devoção e o espírito de sacrifício. (n.12)

 

                         DIÁLOGO DIVINO NO DIÁLOGO HUMANO

 

                        A Liturgia das Horas caracteriza-se por sua expressão dialogal. Um dialogo humano, expressão com o dialogo com Deus; diálogo divino no diálogo humano.

 

A ASSEMBLÉIA ORANTE

 

                        A Liturgia das Horas é essencialmente uma oração da assembléia cristã, uma oração eclesial. Diz a Introdução: “Tanto na celebração comunitária como na recitação individual permanece a estrutura essencial dessa Liturgia: o diálogo entre Deus e o homem. (...) Sempre que a celebração possa ser feita comunitariamente com assistência e participação ativa dos fiéis, deve ser preferida à celebração individual ou particular”(n. 33).Esse diálogo humano que se estabelece na assembléia constitui o dialogo entre Deus e os homens em Jesus Cristo.

                        Diálogo, conforme diz a palavra, é um falar através do outro. É fazer passar a palavra ou o sentido através do outro. Esta palavra voltará modificada, enriquecida. A palavra do homem em confronto com a Palavra de Deus adapta-se a ela, modifica-se, converte-se. A Palavra de Deus, descendo ao coração do homem, não retorna sem ter produzido fruto.

 

O GRANDE ESQUEMA DIALOGAL DA LITURGIA DAS HORAS

 

                        Abertura: Na liturgia da Horas, este rito consta da invocação inicial e do hino. Na primeira hora do dia: “Abri os meus lábios ó Senhor”, completada pelo salmo invitatório, ou uma simples invocação: “Vinde, o Deus em meu auxilio…” e Gloria ao Pai… segue o hino que lança a comunidade na hora ou no mistério celebrado.

 

                        A proposta de Deus: Na salmodia, tem inicio a proposta de Deus. A proposta de Deus e resposta do homem tornam-se uma só coisa. A proposta é completada pela Leitura breve ou longa.

                        A Homilia, prevista também na Liturgia das Horas (n. 47), faz a passagem e procura facilitar a resposta da assembléia.

 

                        A resposta da assembléia: Embora toda oração, desde o inicio já tenha um caráter de comunicação com Deus, podemos dizer que após a Leitura breve ou longa segue a grande resposta da assembléia. Nas horas mais importantes consta dos seguintes elementos:

                        1) Silencio: existe um silêncio religioso. Um silêncio de comunicação com o Divino. Ele é aconselhado no fim de cada salmo que é Palavra de Deus, e, de modo especial, após a Leitura Breve ou Longa. Este silêncio quer criar ambiente propício para a ressonância do espírito que reza em cada membro da assembléia

                        2) Responsório Breve: constitui uma primeira resposta de exultação de meditação e de resposta à Palavra. Ele é facultativo e pode ser substituído por outra aclamação adequada.

                        3) Cântico Evangélico: Nas duas Horas maiores, o louvor matinal e o louvor vespertino, e nas completas, segue a grande ação de graças expressa pelos Cânticos evangélicos. É o ponto alto das Horas. De manhã o Cântico de Zacarias, de tarde, o Cântico de Nossa Senhora, e de noite o Cântico de Simeão. A Igreja canta a salvação como realização das promessas.

                       4) A Oração do Senhor: ela engloba toda a oração da assembléia. Constitui o colóquio com o Pai por excelência, porque é ensinado por seu Filho.

                       5) Oração Conclusiva: ela faz parte ainda da grande resposta. Esta oração de composição eclesiástica evoca o mistério celebrado ou a experiência pascal da respectiva hora.

                       Conclusão: Quando a celebração é presidida por um sacerdote ou diácono as Horas maiores encerram-se com uma saudação, benção e despedida, como na Missa. Não havendo presidência de sacerdote ou diácono, encerra-se a celebração com um invocação de benção. As outras horas encerram-se com aclamação: “Bendigamos ao Senhor. – Demos graças a Deus”. É um convite para que ação de graças se prolongue após a celebração pela vida do cristão. A Oração da noite termina com uma invocação de benção, seguida de uma antífona de Nossa Senhora.

 

AS DIVERSAS FUNÇÕES

 

 

                        Quem propriamente preside a oração é o bispo e, na sua ausência, o sacerdote ou o diácono, representante de Cristo, Cabeça da Igreja. Na ausência do bispo, sacerdote ou diácono, com exceção da benção final e despedida, o exercício desta função fica com o Dirigente.

                        O leitor – “Ele proclamará em pé, do lugar apropriado, as leituras longas e breves”(n. 259).

                        Os cantores – Podem ser um ou dois. Eles têm a função de entoar as antífonas, os hinos, os salmos e os cânticos nas diversas modalidades de expressão, e alternarem os responsórios com a assembléia.

                        Através do exercício das diversas funções estabelece-se um permanente diálogo na assembléia orante. Nada de todos falarem tudo. A assembléia fala, escuta, aclama, silencia, responde e invoca.

 

A BUSCA DA UNIDADE NA DIVERSIDADE

 

                        Rezar o oficio em comum constitui um enorme esforço na busca da unidade na diversidade das pessoas, que constituem a Igreja, reflexo do mistério do Deus uno e trino.

                        Temos hoje algo de novo na versão brasileira da liturgia das horas. É o ritmo cadenciado dos salmos, cânticos, responsórios e antífonas. Mesmo quando ditos ou falados, sua proclamação exige uma grande unidade. Cada participante da assembléia deverá renunciar ao próprio ritmo a própria expressão, para favorecer a unidade e a comunhão de todos. Isso exige conversão.

                        A linguagem corporal é outra expressão de unidade. O homem todo reza, manifesta-se diante de Deus: corpo e alma. Podemos distinguir uma celebração coral com todos os ritos previstos e uma celebração mais informal ou fraterna onde os ritos previstos também têm sua importância mais haverá maior liberdade de adaptação ao grupo.

                        Dentro da celebração coral prevêem-se as seguintes posturas corporais: 

 

                        “Todos os participantes ficam de pé:

 

a)      Na introdução do oficio e nos versos introdutórios de cada hora;

b)      Enquanto se diz o hino;

c)      Nos cânticos Evangélicos, preces, Pai-Nosso e oração conclusiva.

 

                        Ainda alguns gestos:

 

a)      Todos fazem o sinal-da-cruz no início das horas e no inicio dos Cântico evangélicos.

b)      O sinal-da-cruz sobre os lábios no principio do invitatório: “Abri meus lábios ó Senhor”

 

                        Continuam também algumas inclinações de cabeça em sinal de reverência. Encontra-se na Instrução Geral do Missal Romano, n. 234 a: “Faz-se inclinação de cabeça quando se nomeiam juntas as três Pessoas Divinas, ao nome de Jesus, da Virgem Maria e do Santo em cuja honra se diz a Missa”. 

                        “A posição comum do corpo, que todos os participantes devem observar, é sinal da comunidade e da unidade da assembléia, pois exprime e estimula os pensamentos e sentimentos dos participantes” (Instr. Ger. M.R. n. 20).

                        Realizados de modo harmonioso estes ritos, posições e gestos expressam a unidade na diversidade, reflexo do mistério da Santíssima Trindade.

 

 

 

BIBLIOGRAFIA:

 

BECKHAUSER, Fr. Alberto. Rezar em comunidade. 2ª Edição. Petrópolis: Vozes, 1987.